Vivendo o negócio

    À frente do Chiwake e do Chicama, chef Biba Fernandes destaca elementos importantes para obter êxito

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    O chef Biba Fernandes, atualmente, é proprietário de dois restaurantes: o Chiwake e o Chicama. Com grande experiência nas cozinhas, o profissional tem mostrado como o gosto por aquilo que se faz é capaz de proporcionar ótimos resultados para os negócios.

    Para se estabelecer, ele passou por alguns desafios que precisaram ser superados. Em especial, Fernandes ressalta a introdução de algo novo no mercado. “Quando abri o Chiwake, a maior dificuldade foi a aceitação do público. Foi difícil tirar a impressão que as pessoas tinham de que a cozinha peruana era comida mexicana. Há 10 anos, muita gente não sabia o que era comida peruana. Então, essa chegada de uma cozinha nova, de um local que o brasileiro não dava muito valor, causou um pouco de desconfiança do público no início”, afirmou.

    Em entrevista para a revista Food Service News, o chef falou mais a respeito da sua experiência na área, de como foi conquistando o seu espaço, daquilo que acredita e também dos seus planos.

    Food Service News: Como você iniciou na área?
    Biba Fernandes: Comecei com o restaurante japonês Expresso Sushi, em Porto de Galinhas, o qual mantive por 11 anos. Em uma das reformas que fizemos, precisamos ir a Maceió para comprar algumas luminárias e acabamos conhecendo o restaurante peruano Wanchako. Eu fiquei apaixonado pela culinária. Depois de algumas conversas, conseguimos fechar uma consultoria com a chef e proprietária da casa, Simone Bert. Passei sete meses aprendendo diretamente com ela na cozinha, e depois de um ano comecei a desenvolver meu próprio cardápio já no Chiwake. Além do Chiwake, que completou 10 anos, decidi abrir há três anos o Chicama.

    FSN: Quais foram os principais desafios vividos em sua história profissional?
    BF: O primeiro desafio foi o nascimento da minha filha justamente quando estávamos montando o Chiwake e eu tive que viajar para Maceió. Eu passava a semana inteira lá, de segunda a sábado, então só a via uma vez na semana. Foi muito difícil. Outro desafio foi a mudança de vida. Eu vivia numa praia e de repente decidi expandir para um negócio maior. Mudei para a capital e passei a viver das 8h da manhã à 1h da madrugada dentro da cozinha. Comecei do início, lavando e cortando, para depois chegar à bancada e poder cozinhar. Quando abri o Chiwake, a maior dificuldade foi a aceitação do público. Foi difícil tirar a impressão que as pessoas tinham de que a cozinha
    peruana era comida mexicana. Há 10 anos, muita gente não sabia o que era comida peruana. Então, essa chegada de uma cozinha nova, de um local que o brasileiro não dava muito valor, causou um pouco de desconfiança do público no início. No geral, também foi difícil introduzir uma cozinha nova num mercado onde já existem vários restaurantes muito bons. Entrar com uma proposta nova é sempre mais complicado. Além disso, tem as dificuldades que o país oferece para quem é empresário.

    FSN: E as conquistas?
    BF: Para mim, a principal foi ter me apaixonado por um talento que estava escondido dentro de mim: o amor por cozinhar. Depois, o que mais me deixa feliz é a resposta do público. Eu dou muito valor ao retorno que o cliente me dá. Não gosto de falar em prêmios porque eles são muito subjetivos. Eu posso ser o melhor para você, mas não ser o melhor para o outro. Para o nosso trabalho é positivo, claro, mas eu não vejo isso como o principal. Não acho que a competição seja a melhor coisa. Acho que, na verdade, a melhor resposta para quem cozinha é quando a pessoa que come a sua comida lhe chama e diz: “que comida maravilhosa”. Acho que isso vale muito mais que qualquer prêmio.

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    “Hoje não tem espaço para amadorismo”

    FSN: Como você enxerga a área de alimentação fora do lar atualmente no Brasil?
    BF: Hoje em dia está havendo uma mudança em relação às refeições. O Brasil ainda carrega em si esse vínculo de comer dentro do lar, mas a rotina do dia a dia está mudando os hábitos das pessoas terem que comer fora de casa porque não tem suporte ou tempo suficiente para ir em casa. Com isso, de uns anos para cá, os clientes ficaram muito mais exigentes. Hoje não tem espaço para amadorismo. O cliente está procurando por comida boa, atendimento bom. Vai se destacar quem tiver excelência no atendimento e comida gostosa com preço justo. Há restaurantes de todos os tipos de culinária do mundo, mas acho que o segredo para se manter no segmento é o profissionalismo. Isso porque ninguém fica em pé somente cozinhando. Tem que cozinhar, administrar… É um conjunto de coisas.

    FSN: Para você, quais são os principais pontos que ainda precisam ser trabalhados no segmento?
    BF: O primeiro é mão de obra qualificada, tanto de garçom quanto de cozinha. No ramo da gastronomia hoje temos muito cursos em faculdades, mas, na verdade, eles não preparam as pessoas efetivamente para estarem na cozinha. Cerca de 90% dos estudantes que vão para o restaurante estagiar pedem pra sair no segundo dia e querem estágio no escritório. A faculdade ensina uma coisa que não é real, onde eles ficam lá no ar- condicionado… Mas o ritmo numa cozinha real é totalmente diferente. Outra coisa importante é que qualquer pessoa hoje quer ter um diploma e a faculdade de gastronomia dura apenas dois anos. Então, muita gente cursa para obter o diploma; falta o amor pelo trabalho.

    FSN: Como se destacar no mercado?
    BF: Acho que os pontos principais são oferecer um bom serviço, com qualidade no atendimento e conforto para os clientes no estabelecimento; qualidade na matéria-prima, que resulta numa comida boa, e empenho pelo negócio. É preciso viver o negócio.

    FSN: Como fidelizar os consumidores?
    BF: Aqui cabe a mesma resposta da pergunta anterior… Excelência no serviço, qualidade no atendimento e na matéria-prima.

    FSN: Em sua opinião, quais são as boas características que um chef deve ter?
    BF: Liderança, humildade – saber que você nunca sabe tudo e sempre estará aprendendo; você aprende diariamente desde o garçom, ao subchef e gerente – e amor pelo que faz.

    FSN: Como é o seu dia a dia de trabalho?
    BF: Normalmente eu acordo e vou para os restaurantes. Começo a ver a preparação de molhos, vejo o que minha equipe já fez e dou continuidade. Converso com o garçom, com o gerente, faço o acompanhamento com as compras na cozinha, analiso qualidade da feira, vejo se o produto está chegando com a qualidade que tem que chegar. Como a minha esposa e sócia, Manuella, fica na área mais burocrática e administrativa, o meu trabalho é basicamente analisar os produtos, criar pratos novos, elaborar menus para eventos e sempre procurar pela melhor matéria-prima e frescor de produtos.

    FSN: Quais são os seus planos em médio e em longo prazo?
    BF: Eu pretendo dar continuidade ao que já estou fazendo e tentar melhorar as coisas que eu faço. Estou trabalhando com consultoria, fazendo cardápios para pousadas e restaurantes. Não espero montar nenhum outro restaurante, estou satisfeito com os dois que já tenho. Quero desenvolver outras coisas, como a elaboração de cardápios para outros estabelecimentos. Quero pesquisar muito e aprender cada vez mais. Eu tenho alguns cursos em vista nesse sentido para crescer profissionalmente; até já marquei um curso em São Paulo com o chef francês Laurent Suaudeau.

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