Uma pitadinha de fermento

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    Ao entrarmos na unidade administrativa da Vilma Alimentos, em Contagem, Minas Gerais, um fator chama a atenção desde o primeiro momento: os funcionários parecem felizes e o ambiente é bastante tranquilo. Após chegarmos à sala de reunião e começar a conversar com Domingos Costa, presidente da empresa, descobrimos o motivo: uma gestão voltada para as pessoas, consideradas peças fundamentais dentro da companhia. Ele afirma que este é um de seus traços impresso na marca. “Uma das características que me ajudaram no comando da empresa não foi especificamente a minha posição, mas o fato de me sentir pertencendo a um grupo, além de não ser uma pessoa que dita normas e regras. Posso dar a última palavra, mas não é a minha. É uma palavra encontrada em um consenso”, afirma.

    A empresa

    A história de Costa se confunde muito com a história da Vilma. Inaugurada por seus avós em 1925, a empresa começou pequena e bem familiar, com o foco no macarrão, um dos produtos de destaque da marca até os dias de hoje. No momento em que ele foi trabalhar na unidade, após se formar no curso de administração, a empresa já estava grande, assim como a expectativa de sua família para que ele tocasse o negócio. “Quando me formei, houve esperança, aquela tradição italiana de que os filhos dessem continuidade ao empreendimento construído pelos pais. Eu tive sorte porque eu gostava do que fazia, gosto da parte de administrar empresas”, conta. Porém, o presidente comenta que no começo houve algumas divergências de ideias, prejudicando o relacionamento profissional com seu pai, que também administrava a empresa. Mas com o tempo tudo foi se acertando.

    Durante sua história, a Vilma passou por diversas mudanças que se misturaram a história de Costa, como o período governado por Collor e a inserção de tecnologia em diversos setores da companhia, incluindo a gestão. Muitos destes diferencias partiram da iniciativa do atual presidente. “Eu sabia que tinha que mudar, mas não sabia para onde. Para isso é preciso abandonar algumas culturas e convicções, pois você não muda só por mudar. É um período de risco, onde você entra em um caminho sem volta”, fala. Em sua administração, a Vilma passou pela modernização do setor administrativo, alternou os turnos de trabalho, incorporou as horas extras ao salário dos colaboradores, o que influenciou na redução do índice de absenteísmo e na melhoria da produtividade do moinho.

    Com estas modificações surgiram muitos desafios que foram vencidos, viraram experiência e conhecimento. “O que me deu mais conforto foi não saber o que fazer pra mudar, se soubesse talvez não faria. Às vezes pensaria melhor se soubesse que ia trabalhar muito!(risos). Os desafios foram muitos e eles continuam. Mas acho que tenho a experiência que conta como um fator a favor”, diz.

    Costa não se arrepende de sua escolha e afirma que sua dedicação ao trabalho não atrapalhou sua vida pessoal. Porém foi uma caminhada cheia de obstáculos e que o levou a sua atual posição. “Não me arrependo das minhas escolhas. Creio que tive sorte de certa forma. Além disso, aprendi muito com meu pai. Ele era uma pessoa fechada por um lado e aberto pelo outro. Sempre falava ‘eu não te proíbo de fazer nada, mas também não te concedo nada. Faça e eu critico’. Então eu ouvia e assim aprendi muito pela sua forma e modo como ele se comportava”.

    Questionado sobre sua marca na Vilma, o presidente brinca e frisa os colaboradores. “Olha, quem tem marca é a Vilma!(risos). Eu acho que se pudesse deixar uma marca legal, seria algo relacionado a integração das pessoas dentro dos objetivos da empresa, porque não fiz nada sozinho. Acredito que consegui tirar o melhor delas e isso faz com que elas trabalhem com prazer”.

    A família e a fábrica

    A vontade de trabalhar na companhia passou para outros membros da família e atualmente dois dos filhos de Costa trabalham na empresa. Ele destaca que o relacionamento entre ele e os outros familiares, no sentindo profissional é muito bom e tenta passar isto para todos, pois chega a significar o bem do negócio. ”Graças a Deus temos um bom relacionamento e ainda não tivemos atritos, mesmo porque, uma disputa entre eles, significa perdas de valores e de negócios”.

    Ele destaca que o relacionamento com o pai , enquanto trabalhavam, é a melhor lembrança que ele guarda do dia a dia na Vilma. “Acho que o relacionamento dentro da empresa com o meu pai foi muito importante. Ele tinha aquele jeitão italiano de ser. Foi uma oportunidade de me aproximar dele. Algo que meus irmãos não tiveram, assim como minha mãe. E foi a Vilma que permitiu essa convivência que eu não teria, se não tivesse trabalhado aqui”, conta.

    Com a voz um pouco emocionada, Costa relata um episódio marcante que demonstra o estreitamento desta relação. Quando fez 40 anos recebeu de seu pai um relógio que tinha sido de seu avô. O ato o surpreendeu, pois seu pai não tinha o costume de comprar presentes. Então foi um momento bastante marcante que o presidente acredita que venha da relação construída dentro da Vilma.

    A corrida e a arte

    Saindo do ambiente empresarial, descobrimos que um dos maiores hobbys do empresário é praticar corrida e que no começo as pessoas achavam este hábito algo estranho. “Gosto muito de correr, apesar de ser gordinho. Corro desde meus 18 anos e naquela época ninguém corria. Então todos ficavam tirando sarro: ‘ O que aconteceu?Para que tanta pressa’(risos)”. Costa acredita que o exercício físico ajuda a esvaziar a mente e assim, contribui para a tomada de decisões importantes. Um outro prazer que ele destaca, como um bom descendente de italiano, é a comida. Porém, comenta que tem uma desvantagem, pois a família tem a tendência em ganhar peso rápido e ele recusa-se a fazer qualquer tipo de regime.

    Uma paixão que o presidente possui é arte. Indagado sobre o que pensaria fazer se não estivesse à frente da Vilma, ele comenta que poderia ser algo envolvendo arte e que ele pensa em focar-se quando aposentar. “Gostaria de focar nisso, não no sentido de eu fazendo especificamente. Penso em escolher um artista, pegar pessoas que estão ou não no mercado e desenvolver uma marca. Mas dentro de um conceito. A ideia de passar uma emoção através de uma obra é fantástica”, exalta.

    Costa levou este interesse para a empresa. Visando homenagear seus funcionários, ele contratou um artista para desenvolver uma escultura que representasse a Vilma para dar de presente assim, a pessoa poderia guardar uma peça de arte. “Falei com o artista que queria uma escultura que poderia ser assinada por ele e que o material variaria de acordo com o tempo que a pessoa estivesse na empresa. Quando se dá uma caneta, o objetivo se perde, pois ela não é muito representativa. Uma escultura não desaparece”, explica.

    Ele se considera uma pessoa simples, que gosta de estar com as pessoas queridas e de sair para encontrar os amigos. Diferente da maioria dos empresários, ele não gosta muito de viagens e quando as faz, preza pela companhia da família.

    Sobre o sucesso

    “Na hora de tomar as decisões, eu sempre digo: você tem que ter um pouco de sorte. Quando me perguntam qual o segredo do sucesso, eu não acredito que ele é garantido no futuro pelo o que você fez hoje. O sucesso é algo que acontece, mas nada disso garante seu futuro. Te garante uma boa história para contar, mas não te mantém vivo”, afirma Costa. A sua percepção parece estar certa e a Vilma tem conseguido ter muito sorte nos últimos anos. A empresa registrou em 2010 um faturamento de R$ 429 milhões e em 2011 fechou em torno dos R$ 480 milhões.

    Para quem deseja alcançar um bom resultado no mundo dos negócios, o presidente afirma que é necessário estudar bem o cenário que você está entrando e tomar muito cuidado, pois às vezes a pessoa está muito empolgada e não vê os problemas. “O empresário tem que procurar estudar, buscar informações antes de abrir o negócio. Estudar a forma que fique mais barata e entrar com dinheiro sobrando, porque você vai ter que aprender a lidar. E tem que arriscar, empresário é gente que se arrisca”, finaliza. •

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