Toque brasileiro

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    Toque brasileiro

    São diversos os pratos cuja receita original é internacional, mas passam por adaptações e inclusão de ingredientes no Brasil

    Muitos alimentos criados em outros países ganharam versões “abrasileiradas” para agradar o paladar brasileiro. Afinal, em várias situações, a comida japonesa no Brasil não é a mesma do que a do Japão, por exemplo. Idem para comida chinesa. Destaque também para receitas como pizzas, sorvetes, estrogonofes, entre outros pratos.

    França e Brasil em uma única receita

    No restaurante Didier, um bistrô franco-brasileiro que valoriza o ingrediente local, com uma cozinha descomplicada e com um toque autoral do chef Didier Labbé, a fusão das receitas francesas e brasileiras está bem presente nos pratos assinados pelo chef e proprietário.

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    “Tanto os insumos como o povo brasileiro influenciam a minha culinária”, afirma o chef Didier Labbé, do bistrô franco-brasileiro Didier

    “Trabalho com a técnica francesa e produtos típicos do cotidiano francês. O nosso Magret de canard é bem abrasileirado; o servimos no ponto do cozimento francês, acompanhado de purê de batata baroa, que não existe na França, molho de acerola com a base do bordelaise e caju grelhado. Ou seja, ingredientes 100% brasileiros. Também temos o peixe Namorado, servido com risoto de limão siciliano com molho de caqui (produto brasileiro), que tem o creme fresh e o caldo de peixe preparados na nossa cozinha, muito usados na culinária francesa. Outra opção é o nosso Coelho, que também é abrasileirado. Servimos com uma massa e é bem aceito no restaurante – os brasileiros gostam de massa”, apresenta o chef Didier Labbé. “Tanto os insumos como o povo brasileiro influenciam a minha culinária”, afirma ele.

    Portanto, as receitas do restaurante são sempre adaptadas ao paladar brasileiro, com sobremesas um pouco mais doces e pratos com mais acidez e pimenta. “Gosto muito de usar frutas com especiarias, por exemplo”, diz Didier Labbé.

    Os clientes são só elogios às técnicas do chef. “Tem muita receptividade, sim, por parte deles. Temos pratos abrasileirados que nunca foram modificados desde a inauguração, como é o caso do Linguado com purê de baroa, vinagrete com pimenta dedo de moça e limão siciliano. É um sucesso franco-brasileiro”, afirma. O restaurante Didier está localizado na capital carioca.

    Tropeiro em pizza

    Jonatas Moura, coproprietário da Fornazzo Casa de Massas, localizada em Belo Horizonte (MG), conta que foi elaborada uma inusitada pizza chamada de Mineiríssima. Os ingredientes são molho Fornazzo, muçarela especial, parmesão, linguiça calabresa, couve picada, ovo, bacon, torresmo e orégano.

    “A empresa não é pioneira neste segmento, mas cada restaurante tem uma receita de sua região, de seu município ou até país, isso só o torna diferente e único. Ao utilizar ingredientes de primeira qualidade, unindo profissionais de ponta e ideias boas, as receitas fluem de modo que possam ser testados vários tipos de produtos. E foi assim que saiu a ideia da pizza e dos hambúrgueres”,

    explica Jonatas Moura.

    Os produtos abrasileirados mais famosos da Fornazzo, além da Mineiríssima, são os hambúrgueres na massa de pizza, feitos de uma maneira única. Ao parti-lo, a massa até quebra, de tão crocante. “Atualmente possuímos quatro sabores do hambúrguer na massa de pizza”, diz Jonatas Moura.

    O coproprietário salienta que não teve, necessariamente, uma alteração de receitas nesses produtos mais diferenciados, “mas, como dito anteriormente, em cada unidade, desde aos profissionais envolvidos até aos insumos utilizados, cada receita se torna única”, diz.

    Os hambúrgueres são do grupo de produtos assados na boca do forno a lenha e, segundo Jonatas Moura, são campeões de vendas. O coproprietário da Fornazzo Casa de Massas também diz que a pizza Mineiríssima tem uma boa saída, pois acaba atraindo curiosos para experimentar o “tropeiro em pizza”.

    Gelato de paçoca, doce de leite…

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    Camila Cavalcanti, da Nero Gelato, afirma que os gelatos da marca seguem a forma de produção italiana. “Mas ‘abresileiramos’ os sabores com o uso, por exemplo, de pastas de oleaginosas como amendoim para fazer o tradicional sabor de paçoca”, diz.

    A Nero Gelato é uma gelateria do interior de São Paulo que atua há cinco anos e tem oito unidades.

    Camila Cavalcanti, fundadora e CMO da Nero, conta que, para os gelatos, a marca segue a forma de produção italiana. “Mas ‘abresileiramos’ os sabores com o uso, por exemplo, de pastas de oleaginosas como amendoim para fazer o tradicional sabor de paçoca. O gelato de doce de leite, por exemplo, está entre os mais vendidos”, diz ela.

    Para Camila Cavalcanti, a combinação de produtos tradicionais e abrasileirados traz proximidade com o consumidor, pois no momento da compra a identificação com sabores e opções gera mais segurança na escolha e, dessa forma, é até possível apresentar itens mais tradicionais.

    “Em relação aos gelatos, produzimos de acordo com a forma original, o que abrasileiramos são os sabores. Por exemplo, no gelato de pistache, muito tradicional na Itália, damos sabor ao gelato usando pasta de pistache, já em um sabor de castanha de caju, utilizamos a pasta dessa oleaginosa que é supertradicional no Brasil. Assim como sabores de doce de leite, amendoim, banana etc. No geral, a receptividade é ótima e tem, sim, boa saída”, relata ela.

    O polêmico sushi abrasileirado

    Haroldo Arruda, fundador e diretor do Clube do Sushi, localizado em São Paulo, capital, ensina a culinária japonesa desde 1993 com vasta experiência no ramo de restaurantes. Ele foi o primeiro brasileiro a ter um restaurante japonês no país e chegou a ter outros 15 estabelecimentos.

    Haroldo Arruda é um grande crítico de como a comida japonesa é feita no Brasil, mas, felizmente, como diz ele, não são todos os restaurantes japoneses no país que a preparam como ela é feita. “Já noto uma migração gradativa ao sushi mais saudável e – se não tradicional, como originalmente é produzido – mas com ingredientes mais elaborados e pesquisados”, afirma ele.

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    Haroldo Arruda, do Clube do Sushi, diz que já nota uma migração gradativa ao sushi brasileiro mais saudável e – se não tradicional, como originalmente é produzido – com ingredientes mais elaborados e pesquisados

    A confecção do arroz para sushi no Brasil muitas vezes é feita com inúmeras receitas para agradar o paladar local. “Em geral erradas. Por exemplo, esse arroz leva vinagre, açúcar e sal e existem lugares no Brasil onde não se coloca sal para o arroz ficar mais docinho. Isso é alterar uma receita criada em 1680. Outras coisas marcantes são o uso de doces, geleias e cream cheese que, definitivamente, não existem na culinária japonesa, além do mal que fazem à saúde, mas parece que esse é um caminho sem volta”, afirma Haroldo Arruda.

    Empanar e fritar sushi também é outra ‘aberração’ para o diretor. Para Haroldo Arruda, tais práticas acontecem porque as pessoas que procuram esse tipo de sushi querem comer algo parecido com o que conheciam anteriormente em sua alimentação.

    “Uma pessoa que prefere um sushi empanado e frito em vez de um sushi recheado com atum cru tem um paladar mais voltado aos alimentos vendidos em redes de fast food”, diz.
    Haroldo Arruda entende que os praticantes dessa culinária querem atender a fatia do público que deseja uma novidade saborosa, mas que não desafie seu paladar. “Não sabem o que estão perdendo em experimentar o genuíno sushi japonês”, afirma ele.


    CLUBE DO SUSHI
    www.clubedosushi.com.br
    Instagram: @clubedosushi
    DIDIER Restaurante
    Instagram: @didier_restaurante
    FORNAZZO Casa de Massas
    www.fornazzo.com
    Instagram: @fornazzo
    NERO Gelato
    www.nerogelato.com.br
    Instagram: @nerogelato

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