Preocupação ambiental

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    As empresas produtoras de óleo no Brasil têm mostrado uma preocupação ambiental tanto no processo de produção quanto no pós-consumo desses produtos. Além dos desgastes causados na produção dos óleos, como o desmatamento, o descarte de óleo pode gerar a poluição de rios e o entupimento de caixas de esgoto.

    Para entender esse contexto, é preciso pensar na matéria-prima utilizada para produzir óleos e gorduras, que podem ser desde soja, canola, palmeira, girassóis e milho, por exemplo. Muitas vezes, para essas plantas serem cultivadas precisam de áreas desmatadas. Nesse processo, as empresas têm o dever de reflorestar esses espaços.

    Em julho de 2006, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC) decidiram, em conjunto com os associados, não comercializar os óleos de soja produzidos em áreas desflorestadas desde a data da assinatura do compromisso.

    A iniciativa teve duração de dois anos, focando o desenvolvimento econômico e o bem-estar do meio ambiente. Pensando nisso e em outros fatores que interferem na sustentabilidade, várias empresas do setor têm demonstrado o compromisso de manter a melhoria nas práticas ambientais.

    Ações

    O óleo Liza, produzido pela Cargill, mantém um plano de ações sustentáveis que envolvem fatores como a escolha de matéria-prima, produção, transformação, transporte, entre outros.

    Recentemente, a companhia lançou um programa de gestão de coleta de óleo voltado para o setor de food service. Nesse projeto, há um material de comunicação exclusiva para destinação de óleos, além de certificação para empresas coletoras, sistema de rastreamento e gestão online da destinação correta dos resíduos.

    “O Programa surgiu quando analisávamos a cadeia produtiva do óleo LIZA, buscando oportunidades de reduzir os impactos ambientais e torná-la mais sustentável. Já tínhamos ações no campo, na fábrica, na embalagem e na logística, e faltava um projeto que desse uma alternativa ambientalmente adequada para os consumidores descartarem de forma adequada o resíduo gerado pelo processo de fritura. E foi assim que o projeto começou”, explica Márcio Barela, coordenador de Sustentabilidade da Cargill Foods Brasil.

    A Cargill é responsável por toda a gestão da operação. Para participar do projeto, as empresas precisam respeitar algumas regras: a Cargill verifica o porte, estrutura e licenças da empresa. Se aprovada, a Cargill assina um contrato para realização do projeto.

    “Cada restaurante participante do projeto é cadastrado em um sistema de gestão online e no cadastro são informadas a frequência de coleta e empresa responsável pela coleta. A Cargill implementa materiais de controle na loja e treina a equipe do restaurante para o correto manuseio do resíduo. A empresa responsável pela coleta é também a responsável por fazer o input das informações no sistema de gestão. A partir daí temos todas as informações para fazer a gestão e rastreabilidade total do Programa”, conta Márcio.

    De acordo com ele, as empresas participantes do projeto recebem um valor por litro de óleo coletado, que pode ajudar a reduzir custos na operação. Nesse quesito, as empresas ganham duas vezes, com uma recompensa financeira e ambiental.

    Muitas organizações ainda não têm conhecimento sobre os males de jogar o óleo em um local inadequado. Segundo Márcio, o restaurante que destina esse resíduo ao local adequado evita o entupimento da caixa de esgoto e, além disso, esses óleos e gorduras têm um valor e podem ser transformados em biodiesel. “Resumindo, o restaurante evita custos com a desobstrução da rede de esgoto, ajuda a preservar o meio ambiente e ainda gera receita”, pontua.

    A Cargill começou um projeto de coleta de óleo em 2010, porém focado nos consumidores. Agora, a empresa está focada nos bares e restaurantes e espera ter sucesso nos resultados do projeto. “Esperamos que no futuro nenhum restaurante e nenhuma residência joguem mais o resíduo de fritura pelo ralo. Esperamos que separar o resíduo de fritura seja algo automático e faça parte do hábito da população”, afirma o coordenador de sustentabilidade.

    A companhia se orgulha de sua responsabilidade ambiental e dos projetos comandados pela marca Liza. De acordo com a empresa, foram 1,2 milhão de litros de óleo reciclados em cinco anos de projeto. No Brasil, a rede de esgotos domésticos não tem o tratamento adequado e acaba poluindo rios.

    Para incentivar outros usos para o óleo que seria jogado na pia, a Cargill colocou informativos e postos de coleta em supermercados. “O nosso programa de reciclagem de óleo de cozinha ainda representa uma parcela pequena da produção, mas tem um enorme potencial de crescimento. Estamos transformando um resíduo descartado que teria contaminado o meio ambiente em um combustível mais limpo e renovável”, explica Márcio, que conta que as embalagens também foram coletadas.

    A empresa divulga, anualmente, um relatório com os planos ambientais, disponível no site da marca. “A Cargill trabalha para reduzir cada vez mais os impactos de sua produção e desenvolver cadeias produtivas responsáveis, ou seja, precisamos garantir que toda a cadeia produtiva, desde o campo até o produto chegar ao consumidor final, todas as etapas foram produzidas de forma responsável, com condições de trabalho dignas, respeitando o meio ambiente e as pessoas”, finaliza o coordenador.

    Agropalma

    A Agropalma, produtora de óleos e gorduras de palma, também investe em um processo produtivo mais sustentável. Atualmente, toda a sua produção possui certificações ambientais, de qualidade dos produtos, saúde, segurança de funcionários, entre outros títulos.

    De acordo com Marcello Brito, diretor executivo da Agropalma, há outros programas voltados para o consumo consciente dos produtos desenvolvidos. “Essas certificações diferenciam os produtos Agropalma no mercado e acabam por qualificar nossos consumidores como empresas comprometidas com o meio-ambiente e a sustentabilidade.
    Na ponta do consumo, efetuamos ações de conscientização para o uso e descarte correto dessas matérias-primas”.

    Para se ter uma ideia do comprometimento ambiental, atualmente a Agropalma mantém 60% a mais de floresta conservada do estipulado pela legislação brasileira. A cada hectare de plantação, por exemplo, 1,6 hectare são mantidos. Desde 2002, a empresa assumiu o compromisso público de ter zero desmatamento, sendo a primeira produtora de óleo de palma a assumir tal responsabilidade no mundo.

    Os animais que vivem na região também são monitorados anualmente para a conservação, em um trabalho coordenado pela ONG Conservation International. De acordo com Marcello, todos os anos é feita uma revisão ética para garantir que toda a empresa cumpra com os valores e normas estabelecidos. “A operação sustentável também é parte integrante de todas as reuniões de gestão e de Diretoria. Na prática, o atual desenvolvimento de negócios é orientado por um Plano de Sustentabilidade Econômica e Financeira de Longo Prazo”, conta.

    Para Marcello, todos esses projetos estão diretamente relacionados com os valores da Agropalma, inclusive em novos negócios. A nova refinaria, na cidade de Limeira, em São Paulo, fará uso de ações voltadas para o meio ambiente. A planta industrial terá reuso de água e energia solar, além de comportar tanques para represamento da chuva.

    preocupação ambiental
    Foto aérea da refinaria Limeira, em São Paulo, antes das ruas serem asfaltadas. A unidade também tem ações ambientais

    Projetos Sociais e a preocupação ambiental

    De acordo com Brito, ações de cunho social também são desenvolvidas pela Agropalma na região amazônica do Brasil, onde algumas instalações da empresa estão situadas. Ele frisa a existência de 27 pequenas comunidades ao redor de fazendas da empresa, sendo que muitos funcionários, pequenos produtores e fornecedores vivem nesses locais. Através de apoio com ONG’s locais e o poder público, a Agropalma atua auxiliando para que os moradores da região tenham melhor acesso a programas de capacitação, saúde e educação.

    “Nesse sentido, nos consideramos parceiros das comunidades locais, promovendo ações para profissionalizar e auxiliar as pequenas empresas a cumprirem exigências de conformidade legal e gerarem renda. Também desenvolvemos projetos que incentivam a educação de crianças, adolescentes e adultos, com mais de 600 alunos em nossa escola. O programa de agricultura familiar envolve 247 famílias numa área de dez mil hectares”, pontua Marcello.

    Monitoramento

    Para demonstrar o compromisso da Agropalma nos projetos ambientais e sociais, são realizadas 13 auditorias anuais, totalmente independentes, que monitoram as ações da empresa. Além disso, há fiscalização dos governos municipal, estadual e federal.

    De acordo com Marcello, ampliar a qualidade desses projetos é um processo contínuo. Ele afirma que a cada três anos é feito um planejamento estratégico, que também monitora as questões e projetos ambientais que deverão ser realizados.

    Na prática

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    Suply Chain da YUM! Brands, Cesar Antonelli explica a prática do projeto da Cargill para destinação de óleos no food service

    O primeiro restaurante a participar do projeto da Cargill foi uma unidade da KFC em Santo André. Embora tenha começado a coleta de óleo há pouco tempo, a marca já comemora os resultados com o projeto. De acordo com César Antonelli, Suply Chain na Yum! Brands, detentora das marcas KFC e Pizza Hut, esse tema é muito importante para a companhia em todo o mundo.

    Antonelli afirma que a KFC já utilizava prestadores de serviços distintos, com a destinação adequada, mas dispensava muitos recursos na gestão, consolidação e documentação do subproduto. “A Cargill, além de se preocupar com o produto de “ponta a ponta”, agrega na gestão da sua destinação, garantindo assim rastreabilidade e acompanhamento adequados, nos deixando bastante tranquilos e satisfeitos neste tema tão relevante para a marca”, conta o executivo, sobre a experiência com o projeto.

    Segundo Antonelli, a KFC tem uma grande preocupação de participar de ações sustentáveis, que apoiem a saúde e segurança do meio ambiente onde atuam e, por isso, decidiu participar de projetos com essa temática.

    “Para nós é muito importante que fornecedores como a Cargill, escolhidos por meio de um criterioso processo de Qualidade e Segurança dos Alimentos, apresentem também diferenciais comerciais, logística e de inovação, agregando valor adicional à parceria. Dessa forma, acreditamos que essa iniciativa é muito bem-vinda para o KFC e seus planos para o desenvolvimento da marca no Brasil”, pontua.

    Consumo

    Atualmente, muitas pessoas buscam informações sobre a origem dos produtos que estão sendo consumidos e das empresas produtoras. A responsabilidade ambiental e social está presente nas principais ações feitas por essas marcas.

    “Existe um interesse crescente por parte do consumidor em saber o que está consumindo, se os produtos advêm de empresas sustentáveis e se a transparência e a ética estão presentes na construção das marcas e organizações. Esse interesse foi sendo construído e algumas agências reguladoras, de fiscalização, e ONGs muito contribuíram para esse novo perfil do consumidor”, afirmou Marcello.

    Segundo ele, o consumidor costuma buscar informações nas redes sociais sobre as empresas e se sentem atraídos por organizações alinhadas aos seus interesses. Por enquanto, o Brasil está em processo de conscientização nesse quesito. Alguns países já têm a produção feita totalmente de forma responsável, como Holanda e Canadá.

    Bunge

    Uma importante ferramenta online para evitar o desmatamento está sendo usada pelas prefeituras de Itaituba e Trairão, no oeste no Pará, também conhecido como corredor da soja. O sistema online foi desenvolvido no Brasil, pela ONG The Nature Conservancy (TNC). Entregue em abril desse ano, o Portal Ambiental Municipal (PAM) foi feito em parceria entre a TNC e a Bunge.

    O uso do sistema é gratuito e conta com um banco de dados e imagens de satélite do município, principalmente áreas rurais e de preservação ambiental. Essa ferramenta permite que os administradores públicos tenham informações sobre a malha viária, uso do solo, florestas e rios. O objetivo é que essas informações possam ajudar a monitorar o desflorestamento em áreas privadas e o planejamento de ações dentro do município, como expansão de estradas.

    “O desenvolvimento social e econômico da Bacia do Tapajós deve estar pautado na conservação ambiental alinhada ao uso sustentável da terra e dos recursos naturais da região. Por essa razão, a Bunge e a TNC atuam com o objetivo de melhorar a governança ambiental nesses municípios”, comenta Michel Santos, diretor global de Sustentabilidade da Bunge.

    Práticas como essa elegeram a Bunge como a empresa mais sustentável do Agronegócio em 2015, pelo Guia EXAME de Sustentabilidade. Foi o sétimo ano consecutivo que a Bunge recebeu o prêmio.

    De acordo com o CEO da Bunge Brasil, Raul Padilha, a sustentabilidade está inserida dentro da companhia e esse prêmio reconhece isso. “A escolha pela sustentabilidade nas operações é um caminho sem volta, para qualquer empresa, setor ou país. Para nós da Bunge, a sustentabilidade é um valor, em todas as nossas atividades. Entrar para essa seleta galeria de empresas-modelo é motivo de grande orgulho”, conta.

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