Paredes vivas

    Para apagar um pouco do cinza espalhado pelas paredes de São Paulo, jardins verticais estão sendo plantados para melhorar o clima e mudar a cor da capital paulista

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    O jardim vertical é uma ótima solução para deixar a natureza entrar, em uma época que os espaços horizontais estão cada vez menores e as paredes cada vez mais cinzas. A ideia é deixar o verde entrar. Ele precisa ser visto e bem colocado para melhorar as condições climáticas do ambiente escolhido para ser plantado. Além de dar beleza, o jardim colabora com a diminuição dos efeitos da emissão de carbono e diminui a temperatura do ambiente pelo controle da energia solar.

    Existem diferentes técnicas para montar um jardim vertical e para todos os bolsos. Uma das mais sofisticadas são os blocos da Greenwall Ceramic, que formam vasinhos e contam com a possibilidade de instalar um sistema de irrigação, que facilita o cuidado e manutenção. Mas ainda existem muitas outras formas de ter plantinhas afixadas nas paredes.

    O jardim vertical permite o uso de diversas plantas. Os blocos e vasos menos profundos exigem mais cuidado na escolha das espécies. Deve-se optar por plantas de raízes mais superficiais como, por exemplo: dinheiro-em-penca (Callisia repens), lambari-roxo (Tradescantia zebrina), peperômia (Peperômia scandens) entre outras. Para os blocos de concreto pré-moldado, algumas espécies indicadas são: barba de serpente (Ophiopogon jaburam) e aspargo-pendente (Asparagus densiflorus).

    O ideal é sempre escolher a espécie recomendada para o tipo de clima e iluminação onde o jardim será instalado. A adubação deve ser frequente, sendo química de NPK no verão, com a quantidade e formulação especifica para as espécies utilizadas e no inverno, utilizar produtos orgânicos.

    A fachada externa verde é uma ótima forma de revitalizar edifícios e combater as ilhas de calor urbano. No caso de paredes internas, a parede verde pode purificar e limpar o ar, pois retém compostos orgânicos voláteis (COV), materiais particulados, fumaça de cigarro, além de manter o conforto térmico agradável. E é buscando isso que restaurantes em São Paulo passaram a cultivar o seu jardim vertical.

    Os restaurantes Kaa e Emiliano

    O roteiro gastronômico de São Paulo tem um ponto de parada obrigatório. O restaurante Kaá – que abriu suas portas em dezembro de 2008 – é um verdadeiro oásis em meio à metrópole fervilhante paulistana. A casa, com 700 metros quadrados de salão de pé-direito alto, tem um teto retrátil que abre quando menos se espera e um exuberante jardim vertical. Sete mil plantas de espécies típicas da Mata Atlântica, como avencas, begônias, orquídeas e samambaias cobrem totalmente uma das paredes do local fazendo referência ao nome ‘Kaá’, que vem do tupi “folha, erva, mato”.
    Com projeto assinado pelo arquiteto Arthur Casas, o Kaá foi premiado pelo Instituto Americano de Arquitetos (American Institute of Architects) em 2009 como um dos melhores projetos arquitetônicos. E, em 2010, destacou-se como melhor restaurante novo do mundo, eleito pela revista Wallpaper, de Londres.

    Quem montou todo o jardim foi a inventora e paisagista Gica Mesiara, proprietária da empresa Quadrado Verde, empresa pioneira na implantação de jardins verticais no Brasil. Em quase 400 metros quadrados de parede, estão distribuídas sete mil mudas de mais de 20 mil espécies. A paisagista começou a desenvolver sua técnica quando percebeu a falta de espaço para colocar plantas na cidade e a abundância de paredes.

    Uma equipe treinada fez rapel para fazer a montagem do jardim que consiste em cápsulas com gancho que devem ser fixadas em uma estrutura metálica. O quadro é fixado com parafusos e buchas. A estrutura é vedada para evitar vazamentos e umidade, o sistema de rega pode ser computadorizado ou manual.

    Mesiara contou à FSN que, além dos benefícios ao ambiente, como melhoria da temperatura e da qualidade do ar, o jardim vertical do Kaá trouxe também economia ao bolso dos proprietários. “Quando fomos procurados pelos proprietários do restaurante, ele estava em ponto de ser inaugurado. Um dos itens que faltava (além do jardim) era a acústica ambiente. Por causa da arquitetura, o som reverberaria. Eles tinham em mãos um projeto para melhorar isso, mas estava muito caro. Aí disse que as plantas ajudam na acústica também. Então nos foi solicitado que fizesse o jardim antes. Fizemos e deu certo. Eles não precisaram fazer o projeto acústico todo e ainda estão economizando com a diminuição do uso do ar-condicionado”, explica a paisagista.

    O Kaá é uma dos estabelecimentos do Grupo Egeu criado pelo restaurater Paulo Kress e o chef Paulo Barros. O cardápio ganha um toque contemporâneo pelas mãos do chef João Leme, que comanda a cozinha sob os olhos de Barros. Destaque para o queijo camembert à milanesa, com folhas verdes e geleia de damasco, além do pernil de vitela assado, acompanhado por molho de cogumelos paris e tagliatelle na manteiga. A casa ainda oferece seleção de vinhos nacionais e importados, com cerca de 200 rótulos. Situado na agitada Avenida Juscelino Kubitscheck, a casa abriga desde empresários em reuniões de negócios como amigos e encontros familiares.

    No ano de 2009 o restaurante Emiliano passou por toda uma repaginação. O novo layout do estabelecimento foi assinado por Arthur Mattos Casas. Este passou por uma reforma, que reduziu seu espaço ao que era o primeiro salão, sem perder a elegância. Um jardim vertical foi criado pelo paisagista Gilberto Elkis.

    O Restaurante Emiliano apresenta culinária italiana, utilizando técnicas minuciosas que destacam o sabor do ingrediente fresco. Um time de serviço altamente qualificado e em aperfeiçoamento constante garante que as premiadas receitas criadas e executadas pelo jovem Chef Stefano Impera o e Chef Patissier Arnor Porto sejam servidas de forma atenciosa e personalizada. A adega possui mais de 296 rótulos de vinhos e champagnes.

    Movimento 90°

    Na época de 40 a lei dizia que os prédios deveriam ser construídos bem próximos uns dos outros, com suas paredes “grudadas” uma nas outras. Assim, se aproveitaria todo o espaço disponível. Em 50 isso mudou e passou a haver recuo entre as paredes para o ar circular. E estas paredes ficaram cinzas, sem vida. Pensando nestas paredes que Guil Blanche desenvolveu o Movimento 90°.

    O Movimento 90° é um negócio social que tem como causa o aumento de área verde em grandes metrópoles através da instalação de jardins verticais em fachadas com impacto na paisagem urbana. A proposta consiste em fazer o cultivo de plantas em uma estrutura simples, com sistema automatizado de irrigação e fertilização. “O jardim vertical ocupa um espaço de não-lugar. Onde não havia vida, agora tem”, afirma Blanche.

    O primeiro grande projeto foi feito no Elevado Costa e Silva, o famoso Minhocão em São Paulo. Em algumas empenas cegas de edifícios localizados ao redor do viaduto foram plantadas várias plantas que formaram um verdadeiro paredão verde. Depois disso, as paredes de um edifício na Avenida Aspicuelta ganharam vida. Por fim, o jardim vertical do Movimento 90° chegou na Vila Madalena. Cada projeto precisa do financiamento de algum parceiro. No Minhocão, por exemplo, a contribuição veio da vodka Absolut.

    O jardim é construído sobre um suporte instalado a 5 centímetros de distância da parede, o que afasta o risco de infiltração. Há sistemas de irrigação e fertilização automáticos paralelos que, no caso de incidência de pragas, podem ser usados para pulverização de pesticidas. A implantação leva cerca de 20 dias. O patrocinador banca o projeto de um a três anos e se compromete a retirar o jardim no fim do prazo, caso o condomínio se recuse a assumir os custos de manutenção.

    Imediatamente após a sua instalação, um jardim vertical atua fortemente na limpeza do ar; na regulagem térmica – tanto dos edifícios em que são instalados, quanto do ambiente ao seu redor; na diminuição de problemas acústicos; e em épocas secas, ajudam a aumentar a umidade relativa do ar. Além, é claro, de dar novo vigor ao aspecto estético das cidades.

    A inspiração veio do trabalho do botânico francês Patrick Blanc. Considerado o pai dos jardins verticais, Blanc começou a implantá-los a partir da década de 1990. A ideia surgiu em viagem ao Brasil, quando percebeu que, por trás das cachoeiras, as plantas da Mata Atlântica se agrupavam verticalmente. Há dezenas de jardins verticais projetados por Blanc ao redor do mundo, como o da fachada do Museu du quai Branly, em Paris, e do jardim botânico de Nova York.

     

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