Enfim, liberdade

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    No dia primeiro de julho deste ano os lojistas do Brasil comemoram a realização de um antigo desejo: o fim da exclusividade das máquinas de cartão de crédito e débito. A partir desta data os terminais de pagamento passaram a aceitar cartões de todas as bandeiras. Com a determinação, os lojistas terão a possibilidade de escolher uma única máquina para passar todos os cartões, independentemente da bandeira. Atualmente, Cielo (ex-Visanet) e Redecard dividem mais de 90% do mercado de credenciamento de cartões de crédito e débito.

    Um acordo firmado entre a indústria de cartões e o Ministério da Justiça foi o que viabilizou a mudança, uma antiga reivindicação do comércio, inclusive do setor de alimentação. “A Confederação dos Dirigentes Lojistas já tem esta bandeira há mais de três anos”, diz Roque Pellizzaro, Presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL). Além da taxa de desconto por parte das credenciadoras – que varia entre 2% e 5% por compra – os empresários pagam o aluguel das máquinas, que somados geram um custo médio mensal de R$ 120 por máquina. Pelizzaro, entretanto, afirma que hoje muitos lojistas já não têm mais nenhum custo com isto. “Somadas, estas reduções deverão trazer uma diminuição anual de custos superior a R$ 1 bilhão”.

    José Carlos Reina, proprietário da pizzaria Luar da Vila, localizada no bairro da Vila Madalena, na capital paulista, avaliou como positiva a determinação. “Com isto poderemos economizar no custo do equipamento, além de ter a chance de negociar alguma coisa em termos de taxas”, explica. Reina também calcula uma economia de aproximadamente R$1.000,00 ao ano só com a redução no aluguel das máquinas.

    No geral, a liberação dos contratos de exclusividade será benéfica para o mercado de cartões. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS), a estimativa é que o setor movimente este ano mais de R$500 bilhões, quase dez vezes mais do que no ano 2000, quando totalizou R$65 bilhões. A projeção é de que o setor cresça 19% este ano, em comparação a 2009. Os cartões de crédito são os grandes responsáveis pela previsão deste ano, podendo alavancar, sozinhos, R$309 bilhões.

    Os pequenos empreendimentos ganham muito com a medida. Atualmente, perto de 1,2 milhões de empresas utilizam cartões nas suas vendas, e levando-se em conta que o total de micro e pequenas empresas devidamente registradas no Brasil é de 5,8 milhões – o que representa 99% do total de empreendimentos do país – é possível se ter uma noção do potencial do mercado. Outro ganho viria da concorrência no setor, que deve aumentar, favorecendo os lojistas.

    Entretanto os empresários terão que esperar um pouco para que o fim da exclusividade das máquinas gere uma redução expressiva de custos. Por enquanto se espera apenas uma diminuição no custo com aluguel do equipamento, que varia entre R$ 80 e R$ 140.

    Para Pellizzaro, os pequenos empreendimentos serão beneficiados antes, “uma vez que o impacto do aluguel dos equipamentos foi mais forte nos custos deste grupo”. Contudo, ele afirma que a medida será boa para todos: “a médio e longo prazo, todos, inclusive o consumidor, sentirão os efeitos positivos, uma vez que as taxas devem cair significativamente, fazendo com que haja um desconto nos preços dos produtos e serviços”.

    A estimativa da CNDL é que uma queda na taxa de desconto, através da concorrência, só será possível após algum tempo, cerca de 24 meses. A redução seria perto de 35% do valor atual. Para o Presidente da Cielo, Rômulo Dias, “a concorrência vai ser dar, sobretudo, na prestação de produtos e serviços”.

    Obviamente, a mudança também atinge às credenciadoras de cartões, o que para Dias, é positivo. “Muda muita coisa e para melhor. Estamos convencidos que a autoregulação será positiva para os negócios e para o setor”. Ele ainda revela que a Cielo já planeja formas de atrair o empresário: “Pretendemos desenvolver ações promocionais em conjunto com o lojista, ações de relacionamento, capacitação e fidelização”. Roberto Medeiros, Presidente da Redecard, concorda com Dias. “Nos cenários mais competitivos é que se tem a chance de ser mais criativo, de inovar ainda mais e, enfim, oferecer produtos e serviços cada vez melhores aos clientes”, afirma.

    Segundo Dias, “a Cielo tem muito interesse em operar com todas as bandeiras de cartões, principalmente porque esta iniciativa provocará um crescimento mais acelerado dos meios eletrônicos de pagamentos”. Roberto Medeiros diz que, apesar das credenciadoras terem um grande potencial de mercado para explorar, os empresários é que serão os grandes beneficiados: “Quem mais tem a ganhar com as mudanças é o lojista, que passou a ter a opção de escolher com qual (ou quais) credenciadores quer trabalhar”, destaca.

    Para o Presidente da Redecard, o mercado de pagamentos eletrônicos ainda tem muito para crescer no Brasil. “É importante ressaltar que o mercado brasileiro ainda tem um enorme potencial, se comparado a outros países. No Brasil, os pagamentos com cartões respondem por 22% do total de transações, enquanto esse número chega a 45% nos Estados Unidos”, aponta.

    Rômulo Dias afirma que a medida não atrapalha os planos das credenciadoras. “O mercado brasileiro de pagamentos eletrônicos tem muito potencial de crescimento e a recuperação da economia, associada às melhores condições de crédito ao consumidor, deve aumentar o volume de transações com cartões no Brasil”, fala. “Acreditamos que esse crescimento do mercado irá compensar a possível perda de participação que as credenciadoras venham a ter”, acrescenta.

    Dados da ABECS (Associação Brasileira de Cartões de Crédito e Serviço) mostram que, nos últimos 10 anos, a menor taxa de crescimento do faturamento nas transações com cartões foi em 2009, que em comparação com 2008, evoluiu 18% num período de turbulência econômica de nível mundial. Isto mostra que o mercado do setor, com um clima econômico cada vez mais seguro, possui um grande potencial no Brasil.

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