Em busca da longevidade

    Pesquisas revelam que 50% dos restaurantes são fechados antes mesmo de completarem dois anos de funcionamento. Como se estabelecer de maneira sólida nesse cenário?

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    Ter de fechar as portas. Essa é uma realidade comum para vários estabelecimentos da área de alimentação fora do lar. Somente para se ter uma ideia desse cenário e de como ele pode ser preocupante para uma série de investidores, de acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 50% dos restaurantes deixam de funcionar antes mesmo de eles completarem dois anos. Ainda segundo os dados da organização, somente três em cada 100 negócios da área continuam abertos por mais de dez anos. Um dos motivos apontados para que isso ocorra são os custos, mais elevados tanto para os proprietários quanto para os consumidores.

    Se, em um primeiro momento, os dados podem realmente assustar, em outro eles revelam a importância de saber investir bem e de ter boas estratégias de negócios, entre outros fatores que podem levar ao sucesso e garantir o funcionamento de um estabelecimento por longos anos. Há diversos exemplos de empreendimentos que ultrapassam décadas e que constroem uma história de êxito no mercado, conquistando clientes fiéis e um nome forte no segmento.

    Mudanças

    Um exemplo disso é o Box 32, que fica localizado no prédio centenário do Mercado Público de Florianópolis, em Santa Catarina, no sul do país. O negócio começou bem pequeno e, hoje, já está totalmente diferente da época em que ele foi inaugurado. Atualmente, além de contar com mais espaço e infraestrutura, o Box 32 também tem equipamentos modernos e investiu em novas iguarias, sem, contudo, deixar de lado a tradição em um atendimento diferenciado, que sabe prover as necessidades de diferentes tipos de público e que está atento as demandas do mercado.

    Os consumidores, desde sempre, são tratados pelo nome no estabelecimento e são questionados sobre a satisfação deles em relação ao Box 32 e a respeito do que gostariam de encontrar no local em uma próxima visita. O resultado de tudo isso é a presença de fregueses de várias partes do mundo, como da Suíça e do Nepal, além de pessoas famosas que, em passagem por Florianópolis, costumam visitar o local. Para Roberto Henrique Barreiros Silva, o Beto do Box, essa atração de turistas acaba sendo algo natural, uma vez que eles costumam procurar sempre esse tipo de mercado para que possam conhecer os costumes e as tradições locais.

    “No início, era um pequeno espaço de 5 metros de frente por 3 metros de fundo, totalizando 15 m² no corredor do Mercado Público. Era março de 1984 quando adquiri uma antiga banca de verdura que ocupava o box de número 32. Eu já tinha boa experiência como empreendedor em negócios de outros ramos. Na época, o Mercado não vivia seu esplendor como referência do turismo na ilha, mas eu já via um potencial na grandiosidade arquitetônica da obra datada de 1898. Imaginava que o mercado seria ainda uma atração notória em Florianópolis. O começo foi de muito trabalho. Tive que projetar tudo minuciosamente para um espaço muito pequeno. Queria estabelecer um lugar que exaltasse o tradicional, que fosse simples e sofisticado ao mesmo tempo. Pouco depois, o que era pequeno ficou ainda menor.

    Passamos por três reformas até chegar ao atual espaço de 42 m². Esse crescimento se deu na proporção do sucesso do negócio. Tudo aconteceu com muito trabalho, esforço, dedicação, criatividade, planejamento e marketing. Para alcançar as conquistas que tivemos ao longo dos anos, tive muito que aprender com nossos próprios erros, ser perseverante e revisar sempre minha conduta e estratégias à frente do negócio. Também tive muita sorte, admito. Claro que uma sorte mais comum àqueles que costumam trabalhar 18 horas por dia e que dão tudo que estiver ao seu alcance para levar satisfação ao cliente. O bom é que esta tal ‘sorte’ ainda nos acompanha”, diz ele.

    O modelo de negócios foi pensado em detalhes e, ao longo dos anos, foi sendo aperfeiçoado para que pudesse chegar ao sucesso que é hoje e para que pudesse atingir consumidores distintos. Conforme conta Beto, quando algo melhor surgia, isso virava regra imediatamente no estabelecimento. Para ele, no entanto, os maiores aprendizados foram originados dos mais de 12 milhões de pessoas que visitaram o local nas últimas décadas. Além disso, ele ressalta que esforços não foram e não são medidos para que os indivíduos possam sair do estabelecimento, de fato, mais felizes do que quando eles entraram no lugar.

    “Esse é o nosso foco principal: receber bem todos que nos prestigiam com a sua presença em um local despojado, com conteúdo único. A fidelização passa por levar à mesa dos consumidores pratos elaborados com primor e receber bem, fazer com que o cliente sinta-se especial. No fundo, é isso que faz um consumidor voltar. A satisfação dele é a nossa prioridade”, ressalta o empreendedor.

    Diferenciais

    Além do atendimento e do espaço que conta com equipamentos que são modernos, diversos produtos alimentícios se destacam bastante no local, sendo considerados realmente diferenciados e atrativos. É o caso, por exemplo, dos pastéis de camarão com 100 gramas de recheio, dos camarões frescos, das ostras e dos 32 produtos de marcas próprias, que englobam, entre outros itens, pratos, taças e pimenta. Todas essas características juntas fazem com que o estabelecimento esteja presente em vários guias mundiais de turismo e, ainda, em livros de gastronomia, mostrando todo o seu potencial para as pessoas.

    Diante de tudo isso, para Beto, é necessário “estar sempre olhando para a frente e buscando fazer cada dia melhor, focando em três pontos fundamentais: atendimento, qualidade dos produtos e local”, afirma ele. “Os benefícios sempre chegarão amanhã. Quem está no ramo sabe que o melhor dia da sua vida foi ontem. Não se pode perder o foco jamais. O dia em que você parar e começar a viver na força inercial do nome será exatamente o dia em que você começará a quebrar”, salienta o profissional.

    Em meio a todas essas questões, segundo Beto, os empreendedores da área de alimentação também devem sempre ter certeza de que eles nasceram com vocação para servir. Além disso, é necessário, ainda de acordo com o profissional, que essas pessoas conheçam profundamente o segmento, que inovem sem mudar aquilo que é essencial, que façam comida com qualidade, tradição e sabor e que utilizem consultorias para que não caiam em erros que são comuns. “Lembrar que não é o que você gosta que deve prevalecer e, sim, o que o cliente gosta. É preciso também ter cuidado com a música. Já vi muito lugar bom quebrar por causa desse fator por dois motivos: o principal é o volume e o segundo é o mau gosto musical do dono”, conta. O profissional também ressalta que o estacionamento é o primeiro passo para a construção de um lugar e que é necessário ter uma boa estratégia de marketing “porque ninguém vai adivinhar o que você está fazendo. Tem que investir metade do dinheiro na construção e a outra metade em marketing”, pontua ele.

    ©2014 Lis Sayuri
    “Para alcançar as conquistas que tivemos ao longo dos anos, tive muito que aprender com nossos próprios erros, ser perseverante e revisar sempre minha conduta e estratégias à frente do negócio”,
    afirma Roberto Barreiros

    Perspectivas

    A marca tem planos de expansão, mas, segundo Beto, eles não serão colocados em prática imediatamente. Para o empreendedor, o momento atual é algo desafiador e é necessário aguardar um pouco mais para que se possa realizar investimentos maiores. “Gostaríamos de investir mais, porém estamos conservadores por não sabermos o que vai acontecer no dia de amanhã. Assim que alguma luz com segurança jurídica e comercial surgir no fim do túnel, iremos lançar novos produtos e investir mais na marca, com forte presença em outras cidades e espaços, afinal, já sobrevivemos com êxito nestes trinta e três primeiros anos”, finaliza.

    Mercado Público

    Conforme frisou Beto do Box, ter visto potencial no Mercado Público foi algo importante para o negócio. Atualmente, o local é um dos principais pontos turísticos de Florianópolis e é valorizado como um patrimônio arquitetônico, histórico e cultural.

    Ao longo do tempo, o lugar foi passando por reformas, sendo que a última de grandes proporções teve início em novembro de 2013 e foi finalizada em agosto de 2015. O Mercado passou, praticamente, por uma reconstrução, sendo que os conceitos arquitetônicos antigos foram mantidos.

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