Cozinha afetiva e regional nas telas

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    Participante do reality show Mestre do Sabor 2020, da Globo, chef Caio Soter atua de modo a valorizar o pequeno produtor e a sustentabilidade

    Participante do reality show Mestre do Sabor 2020, da TV Globo, o chef Caio Soter desenvolve todo um trabalho voltado para a chamada cozinha afetiva. Uma das principais características de sua atuação é a regionalidade. O profissional faz questão de usar produtos sazonais e locais, sobretudo de Minas Gerais, estado onde nasceu.

    No último mês de setembro, o chef Caio Soter assumiu a cozinha do restaurante O Jardim, localizado na cidade de Belo Horizonte. O estabelecimento tem como proposta ser um refúgio, oferecendo um ambiente verde na capital mineira.

    Em entrevista para a Food Service News, o chef falou mais sobre a carreira dele e a área de alimentação fora do lar, compartilhando a sua história.

    Cozinha afetiva e regional nas telas
    “Quando vou criar um prato novo, eu sempre penso em pratos que alguém da minha família fazia, minha avó, minha mãe, ou um prato típico de Minas Gerais, e eu os utilizo como ponto de partida”, destaca Caio Soter

    “Há 10 anos, eu fiz um intercâmbio e acabei caindo de paraquedas em uma cozinha para trabalhar. Não sabia cozinhar nada, mas despertou meu interesse pela cozinha. De volta ao Brasil, estava na metade da faculdade de direito, e a cozinha era um hobby para mim, mas nunca imaginei que seria minha profissão. Em 2017, comecei a trabalhar dry aged, também por hobby, depois de assistir a um documentário que achei superinteressante, e fui me aproximando cada vez mais da gastronomia. Com esse trabalho, comecei a me aproximar cada vez mais da gastronomia e trabalhei com alguns chefs relevantes de Minas Gerais: Flavio Trombino, Fred Trindade, Felipe Rameh… Até que o Felipe me chamou para trabalhar com ele no Alma Chef, no fim de 2018, e chefiei a casa por quase dois anos, até fechar por conta da pandemia. Agora, assumi o Jardim, uma casa com um astral ótimo, alegre… e minha cozinha passa por uma cozinha mineira contemporânea”, relata.

    Para Soter, atualmente, a área de alimentação fora do lar passa por um grande desafio e está tentando se reinventar. “Estamos mais do que nunca preocupados com a segurança do cliente, a segurança alimentar… E estamos tentando nos reinventar neste momento trazido pelo Covid-19, pensando sempre em soluções. Essa é a grande questão da alimentação fora do lar, a adaptação”, diz.

    Um dos grandes desafios, pontua, é o medo que as pessoas têm hoje de sair de casa, por conta da pandemia, “e ficamos em uma berlinda, pois não devemos incentivar as pessoas a saírem de casa. Mas devemos mostrar para as pessoas que já estão saindo porque têm que trabalhar, por exemplo, que é seguro vir ao Jardim. Esse para mim é o principal desafio, trazer a segurança para o cliente. E mais que isso, em um momento de tanta dificuldade, em que a operação está mais cara e o faturamento menor por conta do baixo índice de ocupação, a gente conseguir manter vivos nossos princípios de valorização do pequeno produtor, de sustentabilidade”.

    Em relação aos cuidados devido à Covid-19, o chef Caio Soter afirma que existe toda uma atenção para que as pessoas fiquem afastadas umas das outras, pelo menos por um espaço de dois metros. Além disso, outras medidas também estão sendo tomadas. “As mesas são muito espaçadas, o pé direito é muito alto, toda a equipe usa EPI (máscara, face shield), álcool em gel espalhado pelo salão, além de ter em todas as mesas aferição de temperatura, lacre de embalagem para o delivery, que a gente manteve etc”, conta.

    Cozinha afetiva

    Cozinha afetiva e regional nas telas
    “É um tipo de trabalho que o feedback é muito rápido, é na hora, e isso é incrível”, diz Caio Soter

    O chef Caio Soter tem uma atuação importante relacionada à cozinha afetiva. Mas por que trabalhar nessa área? “A cozinha afetiva é toda aquela cozinha que traz memória, que traz lembranças e te faz viajar um pouco no tempo, lembrar de algo incrível que aconteceu na sua vida, um prato que uma pessoa que você ama cozinhou para você. Eu atuo nessa área porque ela é a mais verdadeira para mim, eu acho que comida é memória e afeto, e eu só sei cozinhar desse jeito. Quando vou criar um prato novo, eu sempre penso em pratos que alguém da minha família fazia, minha avó, minha mãe, ou um prato típico de Minas Gerais, e eu os utilizo como ponto de partida”, afirma ele, que também fala sobre os benefícios de atuar na área de alimentação fora do lar. “Para mim, é poder trabalhar algo que eu amo, a cozinha é minha vida, eu respiro comida. Então, poder lidar com isso todos os dias e ver a satisfação do cliente assim que ele come é muito legal. É um tipo de trabalho que o feedback é muito rápido, é na hora, e isso é incrível”, destaca.

    Tanta experiência e amor pela área levaram o chef Caio Soter para a TV. “Foi muito legal porque eu pude levar a minha cozinha, a cozinha do Caio e de Minas Gerais, e colocar em um palco muito grande, nacional, para várias pessoas assistirem. Então, tiveram alguns momentos muito importantes. Fazer uma galinhada na Globo foi muito importante para mim. Poder fazer o arroz de quintal que conta a história da culinária de subsistência de Minas Gerais, isso foi incrível… Então, foi uma experiência muito legal”, frisa.

    Em relação aos maiores aprendizados que o profissional teve até agora, um dos que ele ressalta é o respeito ao ingrediente “e de lidar com cada pessoa da forma que ela consegue digerir melhor. Então, não sou aquele chef bravo que fica gritando, que fica brigando, eu tento conversar, acho que o diálogo é o melhor caminho. As pessoas que foram meus chefs nem sempre foram gentis, já fui xingado, muita grosseria, e eu não queria replicar isso com a minha equipe. Então, esse foi um dos maiores aprendizados que eu tive na cozinha”, relata.

    Para alcançar êxito profissional, o chef Caio Soter acredita que há apenas um jeito: trabalhando muito. “Trabalho é treino, técnica é treino. É seriedade na hora do trabalho, lidar com cada desafio como se fosse o mais importante e aproveitar cada oportunidade. Então, não tem muito segredo, é trabalhar, trabalhar e trabalhar… É muito treino para, quando chegar na hora do jogo, arrebentar”, diz ele, que também dá dicas para quem deseja atuar na área. “A dica é essa: aproveitar cada oportunidade e trabalhar muito. Saber que durante um bom tempo vai ter que ser o primeiro a chegar e o último a sair, e esse é o jeito”, pontua.

    O Jardim

    Cozinha afetiva e regional nas telas
    “Eu atuo nessa área porque ela é a mais verdadeira para mim, eu acho que comida é memória e afeto, e eu só sei cozinhar desse jeito”, afirma o chef

    O restaurante O Jardim tem como proposta o de ser um local para viver momentos prazerosos. Em relação às expectativas com o estabelecimento, o chef Caio Soter relata: “No Jardim, a gente está trabalhando com uma casa que é grande. Na pandemia, são 75 lugares, mas a previsão é que sejam 130 lugares assim que tiver uma vacina. Então, é um grande desafio trabalhar com uma cozinha legal, com conceito, com técnica, com padrão para esse volume de gente. O que eu busco levar é essa comida confortável, afetiva, que acho que é o que enche o coração de todo mundo e faz as pessoas serem muito felizes no fim de semana quando vão almoçar com a gente”, diz ele, que também salienta os principais diferenciais do restaurante. “O diferencial é que temos uma comida com conceito, que conta uma história da gastronomia brasileira, uma comida feita com muita segurança e todos os cuidados. É uma casa muito alegre, tem uma carta de drinks muito ligada às bebidas brasileiras, uso prioritário de cachaça na maioria dos drinks. É uma casa linda, alegre, feliz. É um espaço para todo mundo ser feliz, sem julgamento, que você vai com a roupa que quiser, ri alto e ninguém vai te julgar por isso”, ressalta.

    Já sobre os fatores que devem ser priorizados para garantir a qualidade de um estabelecimento de alimentação fora do lar, o chef afirma que tudo começa nos ingredientes. “Bons ingredientes, bem selecionados, que estão na estação, buscar produtos com o mínimo de agrotóxico possível. Depois, uma boa equipe, que vai saber manipular esse ingrediente e tirar o melhor de cada um deles, acho que esse é o segredo. E o atendimento que vai levar isso até o cliente. Uma boa equipe de sala é fundamental para tornar o momento leve, alegre, que o cliente vai aproveitar bastante”, afirma ele.

    Chef Caio Soter
    www.caiosoter.com.br / Instagram: @caiosoter
    Restaurante O Jardim
    Instagram: @ojardimrestobar
    Mestre do Sabor
    gshow.globo.com/realities/mestre-do-sabor/2020/

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