“Centavos fazem a diferença”

    Em meio aos obstáculos atuais, precisão nas decisões torna-se artigo de luxo

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    A procura por negócios que sejam bons para investir nunca deixa de existir nos mais diferentes segmentos. Quando se trata de uma época em que a crise financeira se prolonga e traz com ela vários desafios, encontrar uma área para iniciar um empreendimento pode não ser uma tarefa tão fácil. É importante analisar uma série de fatores para saber onde, de fato, se está pisando. Avaliar o cenário de uma maneira mais ampla faz não somente com que se enxergue melhor os obstáculos, mas que também não se perca de vista boas oportunidades, capaz de gerar ótimos lucros.

    Uma dessas oportunidades pode estar nas franquias de alimentação, conforme destaca Ana Vecchi, sócia-diretora da Vecchi Ancona – Inteligência Estratégica. Como a profissional ressalta, há uma grande demanda de alimentação fora do lar, uma vez que o estilo de vida de muitos consumidores faz desse hábito uma necessidade. Além disso, há ofertas de espaços específicos para esse negócio, como praças de alimentação, malls, galerias e, ainda, ruas comerciais que contam com concentração de restaurantes. Outro fator que se pode ressaltar é que existem franquias de vários portes e diversos conceitos que envolvem o setor como bares, cafés, docerias, que têm itens específicos como pastéis, salgadinhos, iogurtes, sorvetes, entre outros.

    No entanto, de acordo com Ana, é importante avaliar se o conceito de negócio não é um modismo que tende a fracassar, ou se está consolidado. Ela recomenda analisar se a praça onde se pretende instalar a franquia conta com público suficiente e adequado, o histórico que a marca possui, se o investimento é condizente com o que irá oferecer ao mercado e se o retorno vai acontecer dentro daquilo que foi projetado, além de outros cuidados necessários.

    “Há muita queixa com relação à mão de obra, pouco qualificada e que não se fixa em um emprego, porém vejo muito descaso no trato com os profissionais e com o próprio negócio, já que os empresários, em sua grande maioria, não investem em treinamento, justificando que os funcionários não se mantêm no emprego. Gestão de desperdício é fundamental para prevenir perdas (constantes), trabalhar com indicadores em todas as áreas, evitar aumento de CMV dos produtos, cuidados com abastecimento, shelf life e manipulação de produtos”, diz ela.

    Como Ana frisa, esse mercado atualmente ainda está sofrendo com a crise em todas as instâncias. Ela afirma que mesmo os estabelecimentos que atendem as classes mais abonadas tiveram queda de faturamento. A concorrência está brigando por preço e reposicionando suas marcas.

    “A crise exigiu que muitas empresas se profissionalizassem, estruturassem seus processos, renegociassem com fornecedores, repensassem seus posicionamentos – o que trouxe melhores resultados – e, quando a economia voltar a aquecer, estarão muito bem para enfrentar maior movimento. É um mercado que movimenta milhões e exige foco, dedicação, estudos e análises para obter bons resultados. Centavos fazem a diferença”, destaca.

    E, se é assim, Ana frisa que deve-se investir na qualidade daquilo que está sendo ofertado e na agilidade do atendimento. É necessário, segundo ela, ter percepção de excelente custo x benefício e boas propostas de alimentação para o público–alvo. A profissional afirma que não há como mudar a cultura de consumo em tempos em que existe crise e bancar uma conta que demora para ser fechada.

    Dessa forma, para Ana, um diferencial das empresas é oferecer aquilo que o consumidor, de fato, está buscando. “É fundamental utilizar-se de pesquisas de mercado e tendências e ofertar na hora certa, no lugar certo, a preço justo, o que aquele consumidor quer. Um exemplo: há quem considere o petit gateau do Erick Jacquin pequeno, mas quem vai à França sabe que é daquele tamanho mesmo e reconhece que o petit é pequeno, por isso o nome; que não se trata de um bolinho embatumado, com uma caldinha que não assou direito e fica molhado. Os diferenciais estão nas expectativas dos clientes; há quem considere o sal rosado do Himalaia um diferencial e quem considere uma bobagem. Dentro de cada culinária, há tendências e diferenciais, há de estar conectado e desenvolver dentro de seu universo, público-alvo, custos e projeção de resultados, o que for melhor percebido pelos clientes”, avalia.

    Para a profissional, os próximos anos deverão ser de contínuo crescimento, integração de canais, tecnologia a favor da gestão e atendimento das expectativas dos novos consumidores, além da busca constante por inovação.

    Fidelização

    Rodrigo Arjonas é sócio-diretor da Busger, rede de hamburgueria sobre rodas. De acordo com ele, investir em uma franquia de alimentação tem como vantagem a inadimplência baixa ou quase zero. O profissional também ressalta que este é um ramo em que é possível estabelecer, mesmo em épocas de crise econômica, a fidelização dos consumidores, desde que se supere as expectativas deles. Antes de se investir em um negócio, no entanto, ele observa que é importante avaliar a liquidez do produto em si.

    “O Busger tem como diferencial uma liquidez que nenhum outro empreendimento consegue oferecer. Por exemplo: a possibilidade de tentar vários pontos comerciais com o mesmo ônibus. Essa liquidez diminui o risco do negócio. Um estabelecimento fixo é muito mais arriscado, pois se o ponto ‘não pega’, ou seja, se não der certo o ponto escolhido, você praticamente perde seu negócio. Então, essa análise tem que ser muito bem feita. Além dela, analisar o poder que seu produto tem na região, observar a concorrência minuciosamente e tentar achar oportunidades tanto em produtos quanto em experiências, onde a concorrência não está. O payback também tem que ser analisado. Investimentos de alimentação com taxa de retorno maior do que 36 meses, considero muito arriscado”, avalia.

    Para ele, uma das particularidades dos negócios da área é o fato de o ramo ser muito trabalhoso e exigir muito tempo e dedicação. No entanto, ele frisa que é também extremamente compensador. “Você realmente tem que se colocar na posição do consumidor. Não adianta achar que você está certo sempre. As pessoas, muitas vezes, pegam seus carros e vêm de longe até você. O perfil dos nossos clientes é assim. Tudo tem que estar perfeito. Frequentemente, faço o teste de eu ser o consumidor e ir até o meu local. Fisgar o cliente é a tarefa mais fácil, o difícil sempre é fazer com que ele retorne. Vivemos em uma época de experiências. Hoje em dia, não basta sua comida ser boa se a música não estiver adequada, atrelada ao bom atendimento, limpeza, iluminação, diferenciação, entre outros pontos que fazem a diferença do negócio”, diz.

    Para ele, esse mercado é bem estabilizado, mas sempre aberto a muitas oportunidades. Arjonas ressalta que são sempre vividos períodos e ondas pontuais. Segundo o profissional, tudo é um ciclo em que quem se destaca por algum motivo que seja conseguirá ficar no mercado e se posicionar. “Mas ressalto: o mix tem que ser seu produto e não apenas a comida. As pessoas buscam sair à noite para se divertir, mesmo que seja comendo, de pé, um simples hambúrguer. A experiência como um todo tem que ser bacana, senão o cliente dificilmente voltará, ou drasticamente diminuirá sua frequência”, analisa.

    A expectativa de Arjonas para os próximos anos é fomentar as parcerias e escalar a marca de forma ainda mais concreta para 2018. “Estamos fechando parcerias com outras empresas do ramo alimentício para fortalecermos nossa marca e agregarmos valor à marca delas. Estamos arquitetando a nossa segunda fase da expansão. Parcerias com pessoas sérias é o que estamos buscando neste momento; tanto novos franqueados quanto empresas para geração maior de valor. Acredito que serão bons anos vindo à tona”, finaliza.

    Sucesso

    Marcelo Cordovil, gestor de expansão da rede Mania de Churrasco ! PRIME STEAK HOUSE, ressalta que, com relação ao segmento de alimentação, existe uma volatilidade menor do que diversos outros setores, bem como uma linearidade de performance maior. Ele dá dicas do que deve ser analisado antes de investir. “Deve-se observar se o investimento que está disposto a fazer está dentro do necessário para que se estabeleça uma unidade da franquia escolhida; se o segmento escolhido está de acordo com aquilo que se sente confortável fazendo; se o tempo de dedicação disponível atende o nível de atenção que essa franquia exigirá para ser bem sucedida; se você tem o perfil desejado para o tipo de negócio escolhido; entender e alinhar, junto à franqueadora, as expectativas de ambas as partes com relação ao plano de curto, médio e longo prazo do negócio escolhido”, diz.

    O profissional avalia que o mercado sofreu bastante nos últimos dois anos com os acontecimentos políticos/econômicos no Brasil, no entanto, vem recuperando seu crescimento nos últimos meses com o aumento do consumo de alimentação fora do lar. E diferenciais devem sempre ser procurados. “Nós buscamos pessoas com o nosso perfil, ou seja, que trabalhem bastante e gostem de gente. Não temos meta de quantidade de lojas e, sim, de qualidade de pessoas. Queremos ter no nosso time os melhores franqueados, gerentes e equipe”, diz ele, que ressalta, ainda, que deve-se ter excelência no atendimento e servir novos produtos.

    “A nossa expectativa é que o mercado continue retomando o crescimento e ritmo anterior aos recentes acontecimentos econômicos, e que nós também continuemos com a nossa expansão, impulsionada pelo apetite dos parceiros em abrir novos negócios e empreender”, afirma.

     

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