Aposta no caramelo

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    O mercado relacionado à alimentação saudável está crescendo. A produção orgânica é um dos eixos dessa nova visão mercadológica e o caramelo pode ser explorado dentro dos orgânicos.
    Para a produção do caramelo orgânico, a matéria-prima utilizada deve ser certificada. A plantação é considerada orgânica, de acordo com Rogério Pereira Dias, coordenador de agroecologia do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA, quando cumpre o disposto na legislação brasileira – Lei 10.831, de 23/12/2003 – que se refere a esse tipo de segmento e atende as exigências sociais, ambientais e das normas de produção. “Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente”, explica.
    Segundo Dias, entre as ações de incentivo que o Ministério da Agricultura oferece a esse tipo de produção, destacam-se, na última década, as políticas voltadas para a regulamentação e o estímulo à produção orgânica.

    “No contexto dos projetos e atividades de fomento, o MAPA vem atuando em ações voltadas para ampliar o acesso aos insumos e tecnologias apropriados aos sistemas orgânicos de produção, na capacitação de técnicos e agricultores bem como no incentivo à pesquisa, ensino e extensão em agroecologia e sistemas orgânicos de produção, na promoção dos produtos orgânicos e do consumo responsável no mercado interno e externo e na organização e articulação da rede de produção orgânica nacional e em cada unidade da Federação”, diz o coordenador de agroecologia.
    O crescimento da área de orgânicos tem sido, em média, de 10% a 15% ao ano, como aponta Dias. Atualmente, são cerca de 11.063 unidades de produção orgânica regularizadas e 6.052 produtores constantes do cadastro nacional de produtos orgânicos.

    Matéria-prima de primeira

    Fundada em 1945, pelo Sr Abílio Pereira, a Primor, conforme afirma João Carlos Pereira, diretor técnico e comercial da empresa e filho de Abílio, já foi parceira de vários distribuidores nacionais e internacionais.
    “O nosso caramelo orgânico não contém leite, como se poderia pensar. Mas é produzido tipo marron-glacé, processado lentamente, onde a polpa de bananas descascadas manualmente com os óleos naturais da banana orgânica e um pouco de açúcar orgânico (18%) resultam num produto macio e delicioso, totalmente natural”, diz Pereira.

    O caramelo orgânico, conforme explica o diretor técnico, se difere pela matéria-prima, que deve ser certificada como orgânica e pelo rígido controle de produção, pois os consumidores desse tipo de produto são mais exigentes.

    Pelo fato de os produtos da Primor serem feitos com itens orgânicos, Pereira ressalta que eles têm baixo teor de açúcar, alto teor de fibras da fruta (banana), óleos naturais da própria fruta e alto teor de potássio. Além disso, não têm glúten e nem gorduras. Outra característica que ele classifica como positiva é a textura macia das balas.

    Segundo Pereira, a empresa, mesmo com bons distribuidores, quer parceria com lojas de departamento. “Apesar da forte concorrência no ramo, as vendas têm surpreendido, ocupando melhor a ociosidade do pessoal e das máquinas”, afirma o diretor técnico.
    Conforme a lei

    O produto orgânico precisa de um certificado. Além disso, produtores familiares podem se reunir e fazer um cadastro junto ao MAPA. “No caso de grupos de agricultores familiares cadastrados para atuação em venda direta ao consumidor, o uso do selo não é permitido, pois o princípio da garantia se estabelece na relação direta entre consumidores e produtores, os quais assumem a responsabilidade junto ao MAPA de cumprimento dos regulamentos da produção orgânica”, explica Rogério Pereira Dias, coordenador de agroecologia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.

    Uma das empresas que oferecem esse certificado é a Ecocert Brasil. Criado em 1992, o grupo Ecocert nasceu na França após movimentos em prol da agricultura orgânica. No ano de 2001, a filial brasileira, Ecocert Brasil, foi firmada em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Isso aconteceu, conforme relata Luiz Mazzon Neto, diretor-geral Ecocert Brasil, pelo interesse dos produtores familiares da região, associados da Cotrimaio, em buscar certificação de soja ogânica que seria negociada com cooperativas francesas parceiras. Pelo fato de os franceses já terem um certificado, acabaram indicando para os produtores brasileiros a mesma certificação que usavam, pois assim facilitariam as transações comerciais em curso. Depois, a empresa mudou sua sede para Santa Catarina e gerencia os processos de certificação desse local. Abrange todo o território nacional e também outros países.

    Segundo Mazzon, antes de uma empresa pedir o certificado, ela deve se assegurar de que está em conformidade com os regulamentos brasileiros encontrados no site do MAPA. Posteriormente, deve entrar em contato com a certificadora e ela vai elaborar um orçamento específico para a sua operação. AEcocert Brasil cobra uma taxa anual, sem nenhum custo adicional, pelo uso da marca.

    “Conforme determina a lei [Lei 10.831/03], o certificado emitido tem validade de um ano e é sempre precedido de uma fase preparatória, inspeção in loco de todas as operações de produção envolvidas na cadeia produtiva do produto em questão, e posterior análise de vários documentos relacionados à inspeção realizada. Para a renovação, o processo deve ser repetido. Com o certificado de conformidade em mãos, o operador (como chamamos os clientes certificados) pode vender seus produtos como orgânicos. Isso implica na utilização do selo oficial do Ministério da Agricultura para produtos orgânicos – o selo do SisOrg. A palavra ‘orgânico’ na embalagem de qualquer produto em venda no território brasileiro pressupõe a utilização deste selo, cuja autorização para uso é outorgada pelas certificadoras após a finalização com sucesso do processo de certificação”, explica o diretor-geral.

    Sem um certificado, é proibida a venda de qualquer produto como sendo orgânico. Outro fator destacado por Luiz é que é preciso fazer, no mínimo, uma visita ao ano, mas podem ocorrer visitas em caso de denúncia, visita-surpresa ou em função de mudanças de projetos. A própria Ecocert é inspecionada uma vez por ano pela Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro e pelo MAPA.

    O diretor enfatiza que a rastreabilidade orgânica deve ser comprovada desde o processo de cultivo da matéria-prima até o fim da produção. Caso a contratante só processe a matéria-prima orgânica, mas não cultive, ela deve comprovar por meio de documentos a compra desse produto. “Caso contrário, a visita de inspeção deverá incluir, além dos locais de processamento dos produtos, também os locais de cultivo das matérias-primas”, conclui.

    Tudo em família

    A empresa Do Pé ao Pote, conforme relata Erick Carvalho, sócio proprietário da empresa, começou com a inspiração de sua avó. Ela criou 6 filhos, incluindo o pai de Carvalho, fazendo doces para encomenda.
    Quando o pai de Carvalho começou a trabalhar na fazenda, o uso de agroquímicos era constante, pois a produção de café demanda bastante adubo químico. “Meu pai foi percebendo que, com o passar do tempo, aquilo estava prejudicando tanto ele quanto os empregados. Então começaram a fazer a produção orgânica e há 16 anos somos certificados pelo IBD”, explica o sócio proprietário. Ele explica que, quando é usado o agrotóxico na lavoura, é preciso usar roupas especiais, pois faz mal inalar o produto, “se não pode respirar aquilo, imagine comer”, acrescenta.

    Como se transformaram em uma fazenda de café orgânico, eles precisavam ter uma biodiversidade extensa, com isso plantaram árvores frutíferas. Sem ter o que fazer com tantas frutas, montaram uma fábrica de doce, daí a influencia da avó de Carvalho. Depois, compraram gado e começaram a fazer doce de leite com caramelo de café orgânico – o doce de leite também é orgânico.

    A ideia do caramelo de café veio do filho de Carvalho que, como ele relata, gostava de leite com caramelo e sugeriu a junção dos dois. Já a produção ficou nas mãos da sogra, que, segundo ele, é uma excelente doceira. Os ingredientes utilizados são: mel, café e o leite. Desses três itens, apenas o mel não é produzido por eles, mas compram de uma empresa certificada como orgânica.

    Pelo fato de o caramelo ser mais grosso do que o doce de leite, ele é colocado primeiramente em volta do vidro e depois o doce é introduzido. Por não conter conservantes, esse doce dura 12 meses fechado, 10 dias depois de aberto e deve ser conservado em geladeira. A Do Pé ao Pote faz 16 tipos de produtos orgânicos.

    Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
    www.agricultura.gov.br
    Do Pé ao Pote
    www.dopeaopote.com.br
    Primor
    www.primor.ind.br
    Ecocert Brasil
    www.ecocert.com.br

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