Agora, é a vez das Panc

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    Diante da nova onda de saudabilidade, as chamadas Plantas Alimentícias Não Convencionais vêm ganhando notoriedade no Brasil

    Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde aponta que o brasileiro está comendo melhor, já que, de 2008 para 2018, aumentou em 15% o seu consumo de frutas e hortaliças na quantidade de cinco porções diárias pelo menos cinco vezes na semana, o que é o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No estudo, intitulado ‘Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel)’, também foi descoberto que as mulheres fazem parte do grupo que mais consome frutas e hortaliças e, em ambos os sexos, essa frequência aumenta conforme a idade e escolarização. Além disso, um recente levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) revelou que oito em cada dez brasileiros se esforçam para ter uma alimentação saudável e 71% dos entrevistados afirmaram que preferem produtos mais saudáveis, mesmo que tenham que pagar caro por eles.
    Diante dessa nova onda de saudabilidade já instaurada no Brasil, as chamadas Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) vêm ganhando notoriedade no país, sendo consideradas uma alternativa de combate à fome em comunidades menos favorecidas, de diversificação da renda de agricultores familiares e, principalmente, de resgate de hábitos alimentares tradicionais.

    O que são Panc?

    Agora, é a vez das PancNesse cenário, em primeiro lugar, é de suma importância o esclarecimento do que, de fato, são as Panc. De acordo com Nuno Rodrigo Madeira, agrônomo, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Hortaliças desde 2002 e curador de uma coleção de Hortaliças Panc, “as plantas alimentícias não convencionais são aquelas plantas que não são corriqueiras, cotidianas, que não possuem cadeias produtivas estruturadas, podendo apresentar certo regionalismo, mas que não são globalizadas. Considerando a estimativa de mais de 10 mil Panc só no Brasil, fica difícil dizer os melhores exemplos, mas arriscando, cito ora-pro-nóbis, beldroega, cariru ou língua-de-vaca, caruru ou bredo, taioba, vinagreiras, mangarito, araruta, cará-do-ar, carás, junça ou chufa, bertalha, peixinho, azedinha, capuchinha, moringa, chaya, serralha, muricato, maxixe-do-reino, quiabo-de-metro, feijão mangalô, fisális ou camapu, centenas de frutas regionais, castanhas regionais etc. Quem propôs o termo Plantas Alimentícias Não Convencionais foi o professor e botânico Valdely Ferreira Kinupp, do Instituto Federal do Amazonas, em 2009, sendo, atualmente, a maior referência em Panc no Brasil e, possivelmente, no mundo, autor do livro ‘Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil’. O livro cita a estimativa de pelo menos 10 mil Panc no Brasil, sendo apresentadas no livro 351 espécies, majoritariamente, frutas e hortaliças. Já a proposta de utilizar o sonoro acrônimo Panc, que, inclusive, brinca com o termo ‘punk’, muitas vezes usado em forma de gíria como ‘algo incrível, sensacional’, foi da nutricionista gaúcha Irany Arteche. Aliás, Val (como ele se autodenomina) e Irany são queridos amigos, incríveis profissionais, com quem já tive a oportunidade de fazer diversos trabalhos no Brasil e, no caso do Val, no exterior”, afirma.
    Bruna de Oliveira, nutricionista e sócia fundadora da empresa social Crioula Curadoria Alimentar, destaca que “a definição proposta pelo pesquisador que o desenvolveu é que plantas alimentícias não convencionais, Panc, é toda planta ou parte de planta com alguma funcionalidade alimentícia que é pouco conhecida e/ou consumida em uma localidade ou nação. Para mim, a melhor definição é alterar a extensão do seu acrônimo de ‘não convencionais’ para ‘não colonizadas’, onde a definição seria toda planta ou parte de planta com funcionalidade alimentícias que não é conhecida ou consumida por populações, especialmente, urbanizadas, por não fazerem parte de cadeias de produção de alimentos no sistema agroalimentar hegemônico. Panc é uma categoria social que abarca diferentes grupos de plantas alimentícias. Podemos citar o mamão verde, por exemplo, que é consumido maduro como fruta. Porém, ainda verde, o mamão pode ser consumido como um legume. O mesmo serve para a manga e a banana, essa última mais popular em algumas camadas da sociedade. Outros exemplos são plantas de ciclo curto de vida, com muitas estratégias de dispersão e geradoras de sementes que podem permanecer por anos no solo, mas que somente germinam num momento propício. Estou falando do dente-de-leão, da serralha, da erva de pinto, da crepe japônica, tipos silvestres, de almeirão, radiche e alface. Todas elas são possíveis de serem encontradas em calçadas, praças, jardins e/ou hortas domésticas e, às vezes, em vasos de varandas. Plantas que são utilizadas no paisagismo e podem ser alimento são, por exemplo, os hibiscos e malvaviscos, que podemos consumir as folhas jovens e as flores, as flores dos ipê, a celósia ou a crista de galo, dentre outras espécies de plantas. Plantas que estão na categoria das Panc e são mais conhecidas são a ora-pro-nobis, bertalha, taioba, inhame e coração de bananeira, também conhecido como mangará”, detalha.
    Michel Furtini Almeida Abras, professor, empresário, gestor e Coordenador de Alimentos e Bebidas do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) Belo Horizonte, Minas Gerais, complementa que a melhor definição para as Panc é “alimentos presentes em nossos quintais, hortas e pomares, carregados de cultura e tradição regionais, que outrora fizeram parte da alimentação de nossos antepassados e que, na contemporaneidade, deixaram de ser consumidos, podendo ser folhas, flores, frutos, sementes, talos, raízes, dentre outros. Em Minas Gerais, por exemplo, podemos citar a Taioba, Ora-pro-nobis, Major Gomes, Vinagreira, Cará moela, dentre outras. Vale ressaltar que não quer dizer que sejam Panc nativas do estado e sim de uso relativamente maior. Algumas pessoas poderão dizer que ora-pro-nobis, em Minas, não é Panc. Entendo que seja uma hortaliça mais conhecida, mas não quer dizer que seja popular, que encontremos com facilidade nos mercados, sacolão ou feirante de rua. E, mesmo assim, se atravessarmos as fronteiras de Minas, em muitos estados, além de não ser encontrada, não tem uso na alimentação, o que caracteriza-se uma Panc”, explica.

    Diferenciais

    Agora, é a vez das PancTambém conforme Abras, do Senac BH, “inúmeros são os benefícios das Panc tanto em questões de cultura e tradição alimentares quanto nutricionais. Quem tiver a oportunidade de conversar com seu avô ou avó sobre a alimentação no passado, seguramente, eles irão relatar o consumo de alguma Panc. Boas histórias em torno da mesa, do quintal e do fogão, utilizando as Panc são comuns no interior, principalmente, em Minas Gerais. Comumente, escutamos expressões como ‘fazemos essas hortaliças afogadas com um pouco de banha e carne de porco’. Afogadas diz respeito ao que chamaríamos atualmente de refogadas em óleo ou azeite. Além do caráter cultural, as Panc são extremamente nutritivas. Como exemplo, posso citar a beldroega, rica em ômega 3 e 6 e considerada um ‘mato, praga, erva daninha’ devido à sua polivalência em nascer praticamente em qualquer lugar”, diz.
    Para Madeira, da Embrapa Hortaliças, os diferenciais das Panc são “a resiliência, rusticidade e adaptabilidade, muitas vezes, se comportando como plantas espontâneas. E, por vezes, até consideradas invasoras, fator ainda mais importante para o enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas globais. Isso lhes confere menor necessidade de insumos na produção, uma incrível facilidade de cultivo, dispensando o uso de agroquímico, e um baixíssimo custo de produção. Além disso, a diversidade quase infinita de paladares e os aspectos nutricionais. Enfim, por essas razões, as Panc apresentam um gigantesco potencial de contribuição para a melhoria da segurança e soberania alimentar e nutricional”, garante.
    Já Oliveira, da Crioula Curadoria Alimentar, considera que os destaques das Panc estão nos seus “recursos alimentares que compõem o termo Panc, que possuem potencialidades ambientais, nutricionais, econômicas, sociais e culturais. O termo Panc não dá conta de descrever as diferentes plantas que se comportam de diferentes formas e podem contribuir para uma alimentação mais saudável e adequada para as pessoas e o planeta. Muitas Panc são consideradas pioneiras, que são aquelas que nascem em lugares improváveis, como fendas em muros ou calçadas, concreto e solos empobrecidos de nutrientes. Elas iniciam o processo de povoamento natural desses espaços, atraem insetos, pássaros e outros animais dispersores. Essa relação, com o tempo, possibilita que outras plantas com ciclos maiores e mais complexos se desenvolvam. Muitas Panc contribuem em processos de formação de ecossistemas, assim como muitas frutas, legumes e tubérculos que são considerados Panc podem ter feito parte do repertório alimentar de povos e comunidades tradicionais e originárias. Nesse sentido, essas plantas, que são cultivadas em espaços agroecológicos e/ou não engessados, do ponto de vista de uma produção rica em nutrientes sintetizados e inseridas em ambientes controlados, possuem compostos bioativos mais complexos que alimentos ‘mimados’. Muitos nutrientes, especialmente concentração de vitaminas e minerais, podem estar presentes em maior concentração nessas plantas que adquirem mais conexões bioativas pelas intempéries climáticas e a interação com ambientes não controlados. Criar estratégias de comercialização de alimentos produzidos em bases consorciadas e agroecológicas em agroflorestas, por exemplo, oportuniza geração de trabalho e renda para quem produz, quem beneficia os alimentos em produtos, para quem vende ou revende esses produtos. Os mercados para alimentos ecológicos e as Panc se enquadram nesse cenário, pois são potentes nesse mundo que está colapsando a partir das relações nada sustentáveis com quem as sociedades contemporâneas existem”, ressalta.

    Consumo

    Apesar de apresentarem tantos diferenciais e possuírem características que substanciam a atual onda de saudabilidade vivida por parte dos brasileiros, as Panc ainda são pouco consumidas.
    Madeira, da Embrapa Hortaliças, avalia que “algumas Panc são bastante consumidas em algumas regiões, a exemplo do jambu e da chicória-do-Pará, no Amazonas e no Pará, da taioba e do inhame, no Espírito Santo, do cuxá (vinagreira), no Maranhão, da bertalha e do almeirão-roxo, no Rio de Janeiro, do pinhão no sul, entre outras. Mas, em uma visão mais geral, muito ainda há por se fazer para a promoção das Panc para, realmente, colocá-las em seu merecido status de importância na alimentação do povo brasileiro. A crescente busca por alimentação saudável e produzida mediante sistemas de produção mais sustentáveis e por ramais de comercialização mais justos, como feiras agroecológicas de produtores (e não atravessadores), ou estruturas como as CSA (Comunidade Sustenta a Agricultura), tem levado à popularização de algumas Panc. Entretanto, essa importância crescente ainda é incipiente e pontual e tende a se restringir a consumidores de alimentos orgânicos, vegetarianos ou veganos”, pontua.
    Também segundo Madeira, “a Embrapa Hortaliças possui um trabalho contínuo sobre Panc, oficialmente, desde 2006, a começar por uma coleção de germoplasma (variedades genéticas) de Hortaliças Panc mantida in vivo ex situ permanentemente no campo, recebendo visitas frequentes e servindo de base para pesquisas agronômicas. Para além do fato de eu estar sediado na Embrapa Hortaliças, nossos esforços são concentrados nas Hortaliças Panc por alguns fatores, como ciclo mais curto, menor espaço necessário para cultivo e menor sazonalidade que as Frutas Panc, sendo a grande maioria delas arbóreas de porte considerável, produção somente após vários anos e com colheita em uma única época. Assim, em consequência disso, é notória a velocidade e a capacidade de transformação da alimentação local em uma comunidade, após a implantação de uma horta Panc. Além disso, é muito mais frequente encontrar trabalhos de valorização de frutas e castanhas do Cerrado, da Amazônia, da Caatinga ou do Sul do Brasil. Também a memória afetiva relacionada às frutas é, salvo raríssimas exceções, muito mais agradável que à relacionada a hortaliças, em geral tidas como ‘matos’ que se comiam em momentos de escassez de alimentos. Voltando, entendendo-se que a conservação de germoplasma só será efetiva e valiosa se for assegurada pelo uso, a coleção da Embrapa tem servido de base para vários trabalhos de implantação de bancos comunitários de Hortaliças Tradicionais (Hortaliças Panc). A estratégia de promoção baseia-se na implantação de bancos comunitários de Hortaliças Tradicionais em diversos territórios por meio de unidades de observação associada à pesquisa participativa junto aos pares da Embrapa, instituições de pesquisa e extensão e organizações de agricultores, deixando claro que se tratam de espécies de domínio público e de que o que se leva para as comunidades é o sistema de produção em quintais produtivos. Os bancos comunitários são espaços didáticos coletivos para as ações de transferência (oficinas práticas, visitas técnicas e dias de campo). Também são realizadas inúmeras palestras e elaboradas publicações para diversos públicos, além de divulgações em diversas mídias. Destaque para os trabalhos realizados no Distrito Federal e entorno, em parceria com a Emater-DF, em Minas Gerais, em parceria com a Emater-MG, Epamig, UFV, UFLA e Institutos Federais e na Bahia, em parceria com a CAR, a Ater Bahia e a VP Centro de Nutrição Funcional. Diversas espécies carecem de melhoria no sistema produtivo e melhor conhecimento das características nutricionais. Nesse sentido, tivemos projetos de pesquisa em que realizamos experimentos para a melhoria dos sistemas produtivos de Hortaliças Panc, visando aumentar a produtividade, sempre mediante práticas agroecológicas em que se realizam ajustes no manejo, condução, espaçamento, nutrição, época de plantio e/ou técnicas de propagação, a exemplo dos sistemas propostos para ora-pro-nóbis, moringa, mangarito, cará-do-ar, muricato, fisális e outras. Além disso, foram realizadas análises nutricionais e estudo da vida útil visando subsidiar iniciativas de produção sistematizada e comercialização de hortaliças Panc”, revela.
    Abras, do Senac BH, também entende que “o consumo das Panc ainda é relativamente baixo se comparado a outros alimentos. No entanto, tem aumentado gradativamente. Isso se deve pelo conhecimento por parte tanto de quem produz quanto quem compra e transforma. Ou seja, chefs e cozinheiros e quem consome, sendo em dentro ou fora de casa. Torço para que esse tripé esteja, cada vez mais, fortalecido. A busca por uma alimentação mais saudável é uma tendência mundial e, no Brasil, não é diferente. As pessoas têm buscado informações e, com isso, entendem que você é o que você come. Ou seja, uma boa dieta faz a diferença. E não falo de dieta para emagrecimento, perda de peso não. Falo de uma dieta com um mix de alimentos o mais variado possível e que, inevitavelmente, perpassa pelas Panc devido à potencialidade e a diversidade alimentar existente nesse conceito. Isso sem falar na saúde e soberania alimentar, incluindo os agricultores familiares aos quais são responsáveis pela maioria da produção desses alimentos”, relata.
    Oliveira, da Crioula Curadoria Alimentar, por sua vez, argumenta que “eu não olho para o consumo, produção e demais processos da cadeia de produção de alimentos, especialmente as Panc, como uma tendência com começo, plena expansão e/ou declínio para outra tendência alimentar agrícola. Considero que recursos alimentares não hegemônicos, assim como práticas de cultivo ecológicos, são fluxos requeridos para os tempos que vivemos. O conhecimento sobre alimentos não colonizados é a estratégia emancipatória para autoconsumo e o aperfeiçoamento de novas interações entre pessoas, alimentos e ambiente. Agora, é a vez de fazermos uma autocrítica enquanto sociedade e escolhermos práticas alimentares que sejam socialmente justas e ambientalmente sustentáveis. Penso que, agora, é a hora de governantes perceberem a relevância de políticas públicas que dignifiquem e qualifiquem o trabalho da agricultura familiar. Penso também que, agora, é a hora de reinventar a indústria de alimentos e isso não é uma tarefa individual de consumidores conscientes. Me parece que, enquanto olharmos para problemas sistêmicos, buscando respostas individuais, seguiremos criando etiquetas e valores que movimentam o consumo, mas não mudam estruturalmente articulações que nos têm sido nocivas. Registro, especialmente, o ideário gastronômico atrelado às Panc, que podem ser coletadas na rua e/ou adquiridas por meio do trabalho de homens e mulheres da agricultura familiar e economia solidária. Atualmente, é a hora de agirmos ecologicamente e as Panc podem contribuir nesse processo de transformação, o que eu chamo de revolução gentil”, destaca.

    Popularidade

    Agora, é a vez das PancMesmo ainda pouco consumidas, as Panc já podem ser consideradas populares, uma vez que, a cada dia, vêm sendo mais estudadas e difundidas no mercado de alimentação? Para Oliveira, da Crioula Curadoria Alimentar, “não. Para mim, as Panc têm sido popularizadas pela sua associação à Gastronomia. Infelizmente, a forma como as pessoas se aproximam das Panc, especialmente, em espaços urbanizados, são as Panc como estratégia gastronômica para uma alimentação saudável. Meu trabalho com as Panc não está nesse lugar. Meu trabalho com as Panc está associado à perspectiva de mitigação da pobreza e combate à fome, conforme contribuições dadas por um termo, que em português, seria ‘Espécies Negligenciadas e Subutilizadas’ (Neglected and Underutilized Species – NUS). Meu trabalho está associado à emancipação por meio da coleta urbana de plantas comestíveis, um movimento existente em outros países e denominado de ‘foraging for food’. A popularização das Panc no Brasil é elitista e pouco popular. Por isso, meus esforços de trazer outras abordagens para o uso de recursos alimentares alternativos”, diz.
    Oliveira ainda conta que tem “uma empresa social, chamada Crioula Curadoria Alimentar. Nesse trabalho, produzo conteúdo online sobre as Panc. Mas, também realizo cursos, oficinas e consultoria para hotéis, restaurantes e demais organizações que desejam incluir as Panc em seus processos de prestação de serviço on ou offline. Produzimos conteúdo e gerenciamento de redes sociais também. Enquanto pesquisadora, orientei o trabalho ‘Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC): potencialidades sociais no contexto urbano do Distrito Federal’ e estou elaborando uma pesquisa de mapeamento dos movimentos e como tem ocorrido a popularização das Panc no Brasil. Na minha opinião, as Panc precisam ser popularizadas como estratégias de emancipação humana. Não desejo ver as Panc sendo comercializadas em grandes redes de supermercado ou passando apenas por circuitos caros de restaurantes e bistrôs. As informações sobre recursos alimentação não colonizados, ações que desmistifiquem essa imagem de iguaria ou alimento marcador de um status de sustentabilidade são necessárias”, reafirma.
    Madeira, da Embrapa Hortaliças, defende que “muitas Panc deveriam ser bem mais divulgadas. Deveriam mesmo é fazer parte da alimentação do povo brasileiro, certamente trazendo alternativas mais viáveis de produzir para os agricultores, especialmente, em épocas de adversidades climáticas ou em locais com temperaturas inadequadas para a produção da maioria das hortaliças e frutas mais comerciais, contribuindo, assim, para a melhoria da saúde da população pela disponibilização de alimentos com elevados níveis nutricionais e que, por natureza, não necessitam de agroquímicos. Entretanto, compreendendo que a questão de mercado é difícil de ser quebrada, o foco do nosso trabalho está nos quintais produtivos, seja em hortas domésticas ou em jardins produtivos, seja no meio rural ou urbano, muito mais do que pensar nelas como grandes oportunidades de mercado, ainda que existam nichos de mercado em expansão, como se pode perceber pela crescente busca por alimentos saudáveis e produzidos de forma sustentável e na lógica do comércio justo e economia solidária”, analisa.
    Conforme Abras, do Senac BH, já “existem inúmeros estudos, projetos e ações em torno das Panc, o que me deixa muito feliz. No entanto, muitas pessoas têm utilizado do termo como modismo ou para tirar proveito. Bons projetos vêm de bons pesquisadores, boas entidades ou de bons cozinheiros e chefs. Sendo assim, sugiro, ao pesquisar na Internet, por exemplo, ir a fundo em quem está por trás da pesquisa, da publicação ou documentário. Um excelente cenário da alimentação do país seria o dia em que boa parte das Panc deixassem de ser Panc. Se acontecer, teremos certeza de que esses alimentos passaram a ser consumidos cotidianamente por grande parte das pessoas, garantindo assim a soberania alimentar. Acredito ser um caminho sem volta. Ou seja, a alimentação com Panc é boa para todos”, recomenda.

    Embrapa
    www.embrapa.br
    Crioula Curadoria Alimentar
    www.crioula.net
    Senac
    www.mg.senac.br

     

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