Tendência: Novos estímulos

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    Estudos revelam significativa redução do consumo de carne de boi pelos brasileiros nos últimos 14 anos

    O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo. Mas internamente, em 2016, a queda do consumo de carne de boi no país atingiu nível histórico, de acordo com levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A mesma pesquisa revelou que, em 2006, a demanda per capita por brasileiro era de 40 quilos por ano. Já há dois anos, o consumo mensurado foi de 32 quilos por ano, sendo o menor da década.

    Estudo divulgado também em 2016, mas pela consultoria MB Agro, revelou, ainda, que houve queda no consumo interno de carne vermelha no país nos últimos 14 anos. Em contrapartida, foi descoberto que a demanda de carne de suínos e de aves cresceu consideravelmente, em quase duas décadas.

    Esses dados apontam que os brasileiros estão, cada vez mais, reduzindo a ingestão de carnes vermelhas. Em contrapartida, o Brasil já possui 16 milhões de vegetarianos, o que representa 8% da população, conforme dados de 2012 do Ibope. As buscas pelo tema aumentam de 150% a 250% por ano, de acordo com resultados do Google Trends. Além disso, uma pesquisa divulgada pela Associação Brasileira de Franchising (ABF) diz que 60,8% das redes de alimentação do país já incluem opções light em seus cardápios, 51,4% itens diet e 51,7% investem em alimentos vegetarianos e integrais.

    David Oliveira é diretor de marketing da Superbom, uma das maiores marcas no ramo de produtos voltados ao público vegano e vegetariano do Brasil. Localizada em São Paulo, a empresa produz 37 produtos vegetarianos e veganos, além de outros itens que também se encaixam nessa categoria, como uma linha de sucos.

    Oliveira conta que a Superbom fabrica substitutos da carne animal há 50 anos, mas que, no decorrer dos últimos anos, precisou fazer adaptações devido ao novo perfil do brasileiro, que passou a consumir menos carne, principalmente, a vermelha. “De início, durante algumas décadas, a principal motivação era atender os fiéis da religião adventista. Mas, nos últimos 10 anos, a marca mudou a forma de servir o consumidor, ganhou uma nova visão e ampliou a preocupação com o público, focando também no grande grupo de ativistas que surgiu nesse período”.

    Para o diretor de marketing, a significativa redução do consumo de carne de boi pelos brasileiros possui várias razões e traduz a maior preocupação da população com uma alimentação mais saudável.

    “As pessoas estão mais preocupadas com a saúde, querem viver mais e com qualidade. Logo, desperta-se o desejo de reduzir alguns itens muito calóricos, repletos de gorduras e outros elementos que não somam à saúde. Ao reduzir o consumo desses alimentos, as pessoas buscam alternativas. Daí, o aumento do consumo de alimentos vegetais ou naturais, frente aos cárneos. Creio que um segundo ponto importante é que, de tempo em tempos, a população é impactada com revelações midiáticas sobre problemas nas carnes de origem animal, sendo a última delas conhecida no Brasil como Operação Carne Fraca. Com essas revelações, a população tende a frear, cada vez mais, o consumo”, argumenta.

    Setor
    Thomé Guth, gerente de produtos agropecuários da Conab, afirma que a redução do consumo de carnes pelos brasileiros é algo bastante negativo para a economia do país. “A demanda interna representa 66% da demanda total de carne de frango e 80,4% da demanda total de carnes suína. Além disso, o setor de proteína animal é responsável por milhares de empregos diretos e indiretos, bem como de extrema importância para economia brasileira. Uma forte redução no consumo interno impacta causando um grande prejuízo à economia nacional”.

    Porém, o gerente se mostra positivo em relação ao futuro do mercado de carnes no país. “Acredito que o consumo interno, mesmo com uma pequena redução, deva se manter em níveis elevados, uma vez que o consumo de carnes, seja de frango, bovina ou suína, é cultural na dieta do brasileiro”.

    Guth acrescenta ainda que não acredita em uma tendência de decréscimo no consumo de carnes pelos brasileiros. “O que de fato há é uma redução na disponibilidade per capita, que é dada pela produção total de carnes dividido pelo total de habitantes. Com a queda da produção, a disponibilidade per capita cai”, diz.

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    A nutricionista clínica Helena Thomopoulos Moss considera que consumir menos carne tem se tornado uma tendência

    Questão de saúde
    Para muitos profissionais da área da saúde, a baixa do consumo de carnes entre os brasileiros, principalmente a vermelha, é uma resposta aos novos e favoráveis hábitos alimentares da população.

    A nutricionista clínica Helena Thomopoulos Moss considera que consumir menos carne tem se tornado uma tendência e avalia esse movimento como algo bastante favorável no que diz respeito à saúde do brasileiro.

    “Todos querem envelhecer com qualidade de vida, e reduzir o consumo de carne vermelha significa evitar doenças. De acordo com o Ministério da Saúde, o recomendável é ingerir entre 300g e 500g de carne vermelha por semana, no máximo. O consumo excessivo de carne vermelha está relacionado com o aumento do risco de diferentes tipos de câncer, além de poder provocar doenças cardiovasculares e obesidade. As carnes brancas, como frango e peixe, não oferecem o mesmo risco que a carne vermelha, pois apresentam menor teor de gordura total e saturada, prejudiciais à saúde. Entretanto, não devem ser consumidas em grandes quantidades também. Devem fazer parte de uma alimentação equilibrada”, pontua.

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    “Uma grande observação que tem sido feita é de que o vegetariano costuma dar mais atenção ao que come e acaba optando por opções mais saudáveis”, destaca o nutrólogo Lucas Mendes Penchel

    O nutrólogo Lucas Mendes Penchel concorda e enfatiza que uma dieta sem a ingestão de carne traz, sim, benefícios à saúde do ser humano. “Estudos vêm demonstrando que os vegetarianos apresentam melhora em marcadores, como pressão arterial mais baixa (entre 5 mmHg e 10 mmHg) do que os onívoros. E, consequentemente, menor prevalência de hipertensão arterial, mesmo quando o índice de massa corporal (IMC) é similar. A mortalidade causada por doença isquêmica do coração (DIC) foi 24% mais baixa entre os vegetarianos, quando comparado aos onívoros. O menor risco cardiovascular entre os vegetarianos poderia ser explicado, em parte, pela ocorrência de níveis mais baixos de colesterol nesses indivíduos”, explica o profissional.

    Penchel também acredita que consumir menos carnes tem se tornado uma tendência entre os brasileiros e aponta diferentes razões para tal: “respeito aos animais, crença religiosa e proteção ao meio ambiente são os principais responsáveis pelo aumento do número de vegetarianos em todo o mundo. Logo, a busca pela qualidade da saúde começa a engrossar a lista dos motivos que levam as pessoas a diminuírem ou pararem de comer carne. Um dos mais recentes estudos brasileiros na área da saúde, realizado pela Universidade de São Paulo (USP), encontra evidências de que os adeptos do vegetarianismo apresentam risco menor de desenvolver doenças cardiovasculares”.

    Os dois profissionais entrevistados indicam, mesmo que relativamente, o baixo consumo de carnes. Entretanto, ambos alertam sobre suas consequências e necessários cuidados ligados à adoção de uma dieta vegetariana e/ou vegana. “Para evitar os malefícios da carne, deve-se preferir consumir peixes e carnes brancas, utilizando a carne vermelha apenas três vezes por semana. Também é importante restringir ao máximo o consumo de bacon, linguiça, salsicha e salame, pois são as carnes mais prejudiciais à saúde. Além disso, preferir o consumo de carnes orgânicas é indicado, pois os animais são criados livres e sem uso de remédios”, recomenda a nutricionista Helena.

    “Uma grande observação que tem sido feita é de que o vegetariano costuma dar mais atenção ao que come e acaba optando por opções mais saudáveis. Quem se torna vegetariano passa a fazer melhores escolhas e, consequentemente, apresenta muito mais variedade alimentar. Já o lado ruim de deixar de comer carne está na carência de algumas vitaminas, mais que pode ser suplementado. Por isso, é necessário individualizar a conduta médica nutricional. A necessidade, os objetivos e metas traçadas durante uma consulta. E, quando existe a indicação, indico as carnes mais magras, como patinho, peito de frango e peixe. Já a quantidade varia com a necessidade energética e metabólica de cada pessoa”, conclui o nutrólogo Penchel.

    Superbom
    www.superbom.com.br
    Conab
    www.conab.gov.br
    Lucas Penchel
    drlucaspenchel.com.br
    Árvore de Comunicação
    aquitemarvore.com.br
    Hospital da Baleia
    www.hospitaldabaleia.org.br/portal

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