Sustentabilidade: Sem mais

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    Rio de Janeiro é a primeira cidade brasileira a ter lei que proíbe o uso de canudos plásticos

    A média de tempo que um ser humano usa um canudo de plástico na boca é de quatro minutos. Porém, o mesmo material leva até duzentos anos para se decompor no mar, para onde vão cerca de oito milhões de toneladas de plástico por ano, de acordo com levantamento da ONG Ocean Conservancy, sediada nos Estados Unidos. A mesma entidade revela ainda que, em 2017, o canudo de plástico foi o sétimo item mais coletado nos oceanos em todo o mundo.

    Feitos normalmente de polipropileno ou poliestireno, materiais que não são biodegradáveis, os canudos de plástico se desintegram em pequenas partículas, que chegam aos oceanos e acabam sendo engolidas pelos animais, quando descartados incorretamente.

    Alternativas

    Donos de bares, lanchonetes, restaurantes e outros estabelecimentos de alimentação fora do lar já estão em busca de alternativas para mudar essa história com o intuito de se adequarem a esse movimento mundial de maior preservação do meio ambiente. A rede de fast food McDonald’s, por exemplo, divulgou, há pouco tempo, que deixará de usar canudos de plástico em lojas do Reino Unido e da Irlanda.

    A rede de cafeterias Starbucks também anunciou, recentemente, que vai deixar de usar o utensílio em lojas de todo o mundo até 2020. “Em julho, a Starbucks anunciou que eliminaria os canudos de plástico descartável de suas mais de 28 mil lojas operadas e licenciadas pela empresa, disponibilizando uma tampa que dispensa o uso de canudo ou opções de canudos de materiais alternativos recicláveis em todo o mundo. No Brasil, essa iniciativa já está em andamento e vai fazer parte da rotina de operação de todas as nossas 118 lojas no mercado local. Todas as unidades da Starbucks no Rio de Janeiro já têm tampas sem canudo e canudinhos de papel e, nos próximos meses, nossas lojas em São Paulo vão passar pela mesma adaptação. A tampa sem canudo foi projetada, primeiramente, para melhorar a experiência de consumo, mas os parceiros e clientes reagiram de forma muito positiva, o que mostrou uma oportunidade de criar uma solução sustentável em grande escala”, detalha Sandra Collier, head de marketing e categoria da Starbucks Brasil.

    Segundo Collier, a Starbucks avalia que a medida reduzirá o consumo de mais de um bilhão de canudos de plástico por ano das lojas da marca em todo o mundo e aproximadamente oito milhões só nas unidades do Brasil. “Entendemos que a substituição de canudos de plástico descartável é a coisa certa a fazer. Isso não apenas tornará nossa operação mais sustentável, mas também incentivará nossos partners (como chamamos nossos funcionários) e os clientes a adotarem hábitos que contribuam positivamente para todas as comunidades onde estamos presentes”, esclarece a porta-voz da empresa.

    Proibidos por lei

    Todos os anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) elege um tema para debater e, em 2018, o escolhido foi “Acabe com a poluição plástica”, uma vez que, conforme a própria entidade, a previsão é de que o oceano tenha mais plástico do que peixes em 2050, caso nada seja feito.

    Atualmente, são descartados mais de um bilhão de canudos plásticos por dia em todo o mundo e 95% do lixo encontrado nas praias brasileiras é composto de plástico. Por isso, governos também já entraram nessa discussão e adotaram medidas de proibição do canudo de plástico, como a Escócia e Reino Unido.

    No Brasil, o Rio de Janeiro foi a primeira cidade brasileira a banir o uso de canudos plásticos em quiosques, bares e restaurantes. O prefeito da cidade, Marcelo Crivella, sancionou o projeto de lei que proíbe a distribuição de canudos plásticos em estabelecimentos alimentícios no começo de julho deste ano. Porém, as multas só começaram a ser aplicadas a partir de 19 de setembro.

    Segundo a regulamentação, os comerciantes cariocas tiveram sessenta dias para se adequarem às novas regras e passar a oferecer canudos apenas de papel. Até o fim de setembro, equipes da Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro já haviam percorrido 2.387 estabelecimentos para verificar como estava sendo a questão da utilização dos canudos e indicando que os comerciantes utilizem apenas canudo de papel biodegradável e/ou reciclável, conforme prevê a nova lei.

    As multas decorrentes do não cumprimento da lei variam de acordo com o tamanho do estabelecimento, de R$ 651, se for ambulante, por exemplo, até R$ 1.600. Em caso de reincidência, as multas vão variar de R$ 3 mil a R$ 6 mil.

    Também em julho, a Lei Complementar 1.010 que visa à proibição da oferta de canudos de plástico em bares, restaurantes, hotéis e pensões de Santos, no litoral de São Paulo, foi sancionada. Entretanto, a medida só começa a valer a partir de 2019.

    De acordo com divulgação da Prefeitura de Santos, a proibição tem como objetivo preservar o meio ambiente por meio da redução do descarte de produtos plásticos, cujo processo de decomposição natural pode levar até quatro séculos, segundo o Ministério do Meio Ambiente.

    A multa para estabelecimentos que desrespeitarem a nova regra em Santos vai variar de R$ 500 a R$ 1 mil. Para canudos feitos de materiais alternativos, como papel ou metal, continua valendo a obrigação da embalagem em papel, conforme a legislação municipal. E, como a lei só começa a valer no próximo ano, os comerciantes terão um semestre para se adequarem à nova medida.

    Adaptar é possível

    Em meio à busca por alternativas para substituir os canudos de plástico, outras opções já vêm sendo usadas por vários comerciantes em todo o mundo. Na Espanha, por exemplo, um grupo de amigos criou um canudo comestível, biodegradável e reciclável. O utensílio ecologicamente correto é feito de açúcar, gelatina bovina e amido de milho. Batizado de ‘Sorbos’, o canudo pode vir aromatizado em sete sabores diferentes, sendo limão, lima, morango, canela, maçã verde, chocolate e gengibre, e seus inventores garantem que não altera o gosto da bebida.

    Zazá Piereck é proprietária do Zazá Bistrô, localizado no Rio de Janeiro, e optou por ofertar aos seus clientes o canudo de vidro no lugar do de plástico. A empresária afirma que tomou essa atitude há quatro anos, após ver uma foto de um golfinho engasgado com um canudo de plástico. “Fomos pioneiros. Fiquei muito chocada quando vi, há quatro anos, uma foto de um golfinho morto engasgado com canudinhos de plástico na garganta. Aquela imagem não saía da minha cabeça”, conta.

    Piereck diz que optou pelo uso do canudo de vidro devido ao fato de ele ser mais higiênico e não descartável. “Usamos canudos de vidro, pois sua limpeza fica visível. Os de metal, além de terem um sabor específico, não permitem que o cliente veja se está limpo e desinfetado. Os canudos recicláveis também geram lixo, então, se tenho como evitar, assim o farei”.

    A empresária também revela que os canudos de vidro são fáceis de comprar e que ela até vende para seus clientes a preço de custo com o intuito de conscientizá-los. “Temos que desacelerar esse ritmo absurdo de intoxicação do nosso planeta. Além de não usarmos canudos plásticos há anos, não vendemos água em garrafas plásticas e fazemos a logística reversa com as garrafas de vidro e cápsulas de café, além de separar o lixo, mandar para compostagem os orgânicos. Enfim, tentamos minimizar nossas pegadas no mundo”, enfatiza Piereck.

    Daniel Biron é proprietário do restaurante Teva Vegetal, também instalado no Rio de Janeiro, e, assim como Piereck, já está adaptado à proibição do uso de canudo de plástico na capital carioca. Inclusive, o empresário garante que, desde a abertura do seu estabelecimento, há dois anos, nunca ofertou o utensílio aos seus clientes.
    “O Teva nunca usou canudo de plástico de nenhum tipo. Usávamos os de inox e os de papel apenas quando requisitados por clientes, com intuito de sempre gerar menos lixo. Mas, atualmente, não usamos canudo nenhum. Deixamos de utilizar ao sermos informados de que canudos reutilizáveis de qualquer material estavam sujeitos à multa da Vigilância Sanitária. Portanto, abolimos completamente a utilização de canudos até que a lei contemple o uso desses acessórios, que, assim como talheres, devem ser corretamente higienizados”, justifica.

    Segundo Biron, a não oferta de canudos foi bem aceita pelos seus clientes, que até elogiam a iniciativa. “Os clientes estão, cada vez mais, conscientes, e elogiam sempre a nossa iniciativa. Sempre explicamos com cuidado o porquê de termos retirado os canudos de inox e de papel de circulação. No início, alguns clientes tinham dúvidas sobre como os canudos de inox eram higienizados, mas sempre explicávamos o processo para tranquilizá-los”, partilha.

    Para Biron, a proibição do uso do canudo de plástico no Rio de Janeiro e a diminuição do consumo desse item em todo o mundo são positivas. No entanto, ele ressalta que o canudo de plástico não é o único problema ambiental com o qual a população e autoridades devem se preocupar.

    “É uma tendência superpositiva, pois demonstra maior consciência do público em geral e ataca um problema real. É também uma demanda das pessoas que fez com que o Governo alterasse a lei no município do Rio de Janeiro. Apoiamos essa iniciativa e todas as que venham ao encontro para maior preservação do nosso planeta”, diz.

    Piereck, do Zazá Bistrô, classifica a proibição no Rio de Janeiro como um primeiro passo. “É um pequeno passo na direção certa, junto com a proibição de sacolas plásticas nos supermercados, por exemplo. Os supermercados têm um período para se adaptar, mas creio que, ano que vem, eles estejam abolidos, se Deus quiser, para que a gente possa desacelerar esse ritmo absurdo de intoxicação do nosso planeta”, deseja a empresária.

    Campanha ‘Pare de Chupar!’

    Também inspirada na abolição do uso dos canudos de plástico, foi criada a Campanha ‘Pare de Chupar’!, que já tem grande repercussão mundial. A ação faz parte de um movimento ambiental inspirado na ideia internacional #stopsucking, da Lonely Whale Foundation, e tem como objetivo sensibilizar e mobilizar a sociedade, empresas e Governos a repensarem o consumo de canudos plásticos.

    Sérgio Maron
    No Brasil, diversos famosos como Sergio Marone, Mateus Solano, Nathalia Dill, Fernanda Paes Leme, Sheron Menezes, entre outros, participaram da versão nacional da campanha ‘Pare de Chupar!’. De acordo com Marone, a campanha nacional “surgiu da necessidade de colocar uma pulga atrás da orelha do povo brasileiro para a questão do plástico”

    A Lonely Whale é uma organização sem fins lucrativos criada por Lucy Sunmer e pelo ator Adrian Grenier para divulgar a importância de cuidar da vida marinha do planeta. Sua campanha mais recente é a ‘Stop Sucking’, idealizada a partir de um trocadilho com a palavra suck, literalmente, o verbo ‘chupar’, em português, mas também uma gíria para algo que é muito ruim.

    No Brasil, diversos famosos como Sergio Marone, Mateus Solano, Nathalia Dill, Fernanda Paes Leme, Sheron Menezes, entre outros, participaram da versão nacional da campanha ‘Pare de Chupar!’.
    De acordo com o ator e apresentador Sergio Marone, a campanha nacional “surgiu da necessidade de colocar uma pulga atrás da orelha do povo brasileiro para a questão do plástico. Canudo é uma coisa que todo mundo já usou alguma vez na vida e a gente nunca parou para pensar que aquele canudo que fica cinco minutos na nossa boca vai demorar uma média de 400 anos para se decompor na natureza. Então, foi daí que surgiu essa necessidade de fazer um vídeo para viralizar e tentar espalhar o máximo possível essa campanha para as pessoas pararem de chupar no canudo plástico”, explica o ator que, junto com vários colegas de trabalho, gravou o vídeo em parceria com o Instituto Menos 1 Lixo que já tem mais de 71 mil visualizações no YouTube.

    Marone se diz feliz com o resultado da sua iniciativa e garante que tudo foi feito “na base do amor, da parceria. Depois do vídeo, surgiu toda essa onda de proibição de canudo plástico no Rio de Janeiro. Estou muito feliz com a conscientização do brasileiro para essa questão do canudo. E eu espero que essa questão do canudo faça as pessoas também refletirem para o plástico em geral, que é um dos maiores problemas ambientais que a gente está vivendo no nosso planeta”, salienta o ator, que ressalta que a campanha é totalmente aberta ao público.

    O ator contou à reportagem que, desde pequeno, é preocupado com questões ambientais e que, hoje, faz questão de usar a sua fama para promover essa necessária conscientização ambiental. “Desde que eu comecei a me entender como cidadão deste mundo fantástico onde a gente vive, eu tenho essa preocupação com o meio ambiente, com a sustentabilidade, com consumo consciente. Eu acho que isso é fundamental. Eu acho que eu estou numa posição que eu posso contaminar muita gente e semear muitas mensagens e informações positivas para as pessoas, e isso é muito importante para mim. Não só causar transformação através da arte, mas por meio dessa posição que a arte me colocou, de ser uma pessoa reconhecida, ouvida por muitas pessoas. Isso é fundamental, e eu acho essencial para eu me sentir ser humano, pois o ser humano não existe sem solidariedade. Parem de chupar no canudo de plástico. Se você fizer questão, use um de macarrão, de papel, de inox, de vidro. Opções não faltam! É só você escolher direito onde vai colocar sua boca”, finaliza.

    Starbucks
    www.starbucks.com.br
    Teva Vegetal
    www.facebook.com/tevavegetal/
    Zazá Bistrô
    zazabistro.com.br/zazabistrotropical
    Sergio Marone
    www.sergiomarone.com

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