Mercado: Crise do Abacate?

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    Apesar de o desequilíbrio já ter sido registrado em vários países e ter sido sentido pelos consumidores, produtores negam a existência de uma crise no mercado brasileiro

    Depois do bônus, o ônus. Essa é uma expressão que também pode se relacionar à popularização do abacate em todo o mundo. Afinal, a fama repentina do fruto, devido aos seus muitos benefícios à saúde e versatilidade culinária, já provocou uma demanda maior do que a oferta, o que desencadeou a chamada ‘Crise do Abacate’.

    De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), uma das agências das Nações Unidas, o consumo mundial de abacate passou de 3,5 milhões de toneladas, em 2007, para 5,9 milhões de toneladas, em 2017. Esse aumento é mais direcionado ao avocado, nomenclatura mais popular no Brasil para fazer referência ao abacate tipo hass, a grande estrela desse desajuste registrado na cadeia produtiva de grandes países fornecedores do fruto, como México, Chile e Nova Zelândia. O desequilíbrio tem provocado bastantes problemas. Inclusive, já virou caso de polícia em alguns países, conforme recentes publicações.

    No México, país produtor de quase um terço de todo o abacate consumido no mundo, por exemplo, o fruto ganhou o apelido de ‘ouro verde’, já que a sua produção é um negócio tão lucrativo que cartéis de droga começaram a fazer parte da concorrência. No Chile, os produtores utilizam formas criativas e até criminosas para manter o fluxo de produção do abacate em alta devido à crescente demanda externa. Na província de Petorca, na região de Valparaíso, há relatos de que o governo encontrou diversas tubulações subterrâneas projetadas para desviar o fluxo de rios e irrigar plantações de avocado. E, na Nova Zelândia, os preços do abacate subiram tanto em decorrência da grande procura que o fruto começou a ser roubado nos pés para ser vendido em um iniciante mercado ilegal.

    Mercado nacional

    No Brasil, produtores negam a existência de uma ‘Crise do Abacate”, apesar de a demanda do fruto também já ser maior do que a oferta e isso ter refletido inclusive no ramo food service.

    Sidelei Correa da Silva Junior é coordenador do restaurante Padoca do Maní, localizado em São Paulo, capital, e Marcela Galvão é gerente do local, onde o abacate é utilizado em pelo menos seis receitas da casa (tostada verde, tostada verde vegana, sanduíche verde, salada de avocado, salada de quinoa e limonada indiana). A dupla, que trabalha com o fruto desde julho de 2015, relata que tem conhecimento da ‘Crise do Abacate’ e que chegou a sentir na pele os efeitos do aumento do consumo do fruto durante o ano passado.

    “Lemos algumas reportagens sobre o assunto. Achamos que isso acontece em razão da grande procura pelo produto. Sentimos isso aqui na Padoca, diariamente. Há, cada vez mais, gente preocupada em ter uma alimentação saudável. Usamos apenas o hass em razão da textura mais macia e ideal para o que precisamos em nossas preparações. É um pouco complicado no fim do ano, até fevereiro, quando esse tipo de abatate está fora de época. Nessa ocasião, usamos as pastas prontas congeladas feitas com a polpa do avocado. Utilizamos, em média, 50 kg de abacate hass por mês, entre pasta e fruto. Da Jaguacy, nossa fornecedora, recebemos aviso no fim de 2018 sobre problemas com o fornecimento tanto do fruto, quanto da pasta. Fomos informados de que o fornecimento voltaria ao normal em março”, partilham Junior e Galvão.

    Ligia Falanghe Carvalho
    “No Brasil, o consumo a cada ano duplica”, afirma Ligia Falanghe Carvalho, diretora de Marketing e RH da Jaguacy Brasil

    Segundo Ligia Falanghe Carvalho, diretora de marketing e de recursos humanos da Jaguacy Brasil, principal produtora e comercializadora de abacate no Brasil, além de pioneira no cultivo do avocado do tipo hass no mercado nacional, a ‘Crise do Abacate’ é real, mas apenas no exterior. “Temos conhecimentos desse acontecimento em outros países, como assaltos a plantações e/ou protestos de chefs sobre a utilização do avocado/abacate nos cardápios. Isso não acontece aqui no Brasil”, destaca.

    Atualmente, 70% da produção de abacate da Jaguacy é destinada aos clientes do varejo, 25% a atacadistas e 5% ao setor de food service. Em 2018, a empresa produziu 7,4 mil toneladas de avocado, sendo que 80% foram vendidos ao mercado externo e 20% ao interno.

    “Há uma demanda crescente para o consumo do fruto tanto no Brasil, quanto no mercado externo. A Europa cresce cerca de 30% ao ano. No Brasil, o consumo a cada ano duplica e seus abacates tropicais superam em volume na maioria dos estados brasileiros. A Jaguacy não vê uma crise no mercado. Existe, hoje, uma maior procura pela saudabilidade na escolha do avocado para consumo. Para atender nossos consumidores, trabalhamos fortemente a comunicação e sugestão de consumo através de receitas e de embalagens diferenciadas. A produção de abacate no Brasil é feita em áreas destinadas ao cultivo, sem desmatamento. Também não temos crise hídrica nas regiões. Assim, não enfrentamos nenhum caso de polícia nas áreas de produção”, destaca Carvalho.

    Jonas Octávio, diretor presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Abacate (ABPA), concorda com a diretora de marketing e recursos humanos da Jaguacy. “Não existe nenhuma ‘Crise do Abacate’”, diz. “Acho isso um sensacionalismo barato e que pode atrapalhar uma cadeia de produção tão sofrida, que é a dos produtores de abacate”, salienta.

    Mercado: Crise do Abacate?
    “Existe um aumento de consumo pela qualidade de informação sobre o aba¬cate e abertura de novos mercados consumidores”, frisa Jonas Octávio, diretor presidente da ABPA

    Conforme Octávio, o abacate leva em torno de cinco anos para poder crescer e ser comercializado. No entanto, a demanda pelo fruto cresceu mais rápido do que isso, o que provocou o aumento do preço.

    “Existe um aumento de consumo pela qualidade de informação sobre o abacate e abertura de novos mercados consumidores, o que alavanca a demanda. Mas, como o Brasil está crescendo na produção, outros países também estão. Não vejo como crise. Até porque crise é uma coisa ruim. E, no caso do abacate, tem sido muito bom para os produtores e consumidores. Afinal, quando o produtor recebe um preço mais justo pela produção, ele consegue investir em tecnologia, qualidade, e isso chega, com certeza, ao consumidor. O que está havendo é uma oferta menor do que a demanda, mas isso não deve ocorrer por muito tempo. É uma questão gradual e já se terá uma inversão. Com isso, os consumidores serão beneficiados com preços menores. Em 2018, o produtor recebeu 25% a menos no segundo semestre referente ao ano passado. Sem o produtor ser remunerado adequadamente, não existe sustentabilidade e muito menos oferta e qualidade ao consumidor”, pondera.

    O diretor presidente da ABPA ressalta que o abacate pode ser utilizado “de todas as formas, quente, frio, salgado, doce, puro, misturado ou até em bebidas. Se analisar pelos custos, em alguns momentos, ele pode estar, sim, meio salgado, mas a maior parte do tempo no ano está dentro da média das frutas mesmo. Hoje, o público de mais idade consome abacate para ajudar a regular o colesterol, as crianças por ser uma fruta energética e os adultos fitness após os treinos, repondo as energias com uma fruta. Olha que versatilidade! Por isso, o abacate é o queridinho das frutas atualmente, sem contar que seu teor de açúcares é baixíssimo e ele é rico em fibras. Abacate é uma fruta que serve para alimentação, saúde e beleza. Com isso, não poderia ser diferente ter essa grande demanda. Porém, o que existe, como em tudo, são pessoas mal intencionadas, malandros, porque entram nos pomares e roubam frutas para vender na feira e até em pequenos mercados, mas isso ocorre com qualquer fruta ou produto. Nosso estoque fica a céu aberto, cercado por fios de arame, muito vulnerável a essa situação, mas isso é pontual”, afirma.

    ABPA
    www.abacatesdobrasil.org.br
    Jaguacy
    www.jaguacy.com.br
    Padoca do Mani
    www.manimanioca.com.br/padocadomani

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