Gestão: Os dias depois da greve

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    Paralisação dos caminhoneiros teve diferentes reflexos nas empresas de alimentação. Como lidar com eles?

    No fim do mês de maio, os caminhoneiros paralisaram as atividades deles por um período de onze dias, o que gerou diferentes reflexos por todo o país. Entre as reivindicações da categoria estavam a redução no preço do óleo diesel e também o valor mínimo para o frete, entre outras questões.

    No período de paralisação dos profissionais, uma crise de desabastecimento foi sentida pelo Brasil. Além da ausência de combustíveis nos postos, diversos estabelecimentos chegaram a ficar sem uma série de alimentos, sobretudo frutas, verduras e legumes. A entrega de correspondências também foi afetada, bem como alguns voos em vários aeroportos.
    Durante as negociações para o encerramento da greve, o governo federal e a categoria acordaram a redução do litro de óleo diesel para R$ 0,46 nos postos de combustível.
    Diante desse cenário, muitas perguntas vieram à tona. Como os estabelecimentos da área de alimentação devem se preparar para ocasiões como essa? Como lidar com todos os efeitos de uma paralisação desse porte? De que forma é possível agir de maneira preventiva?

    Conforme destaca Denis Luna, sócio da ActionCOACH, a greve não atingiu somente uma determinada organização, um ramo de atividade ou lugares específicos. A paralisação foi generalizada e nacional. “Isso, por si só, explica possíveis atrasos de entrega e não atendimentos das demandas dos clientes pelas diversas empresas espalhadas pelo Brasil”, frisa.

    Ele ressalta, porém, que a clareza na comunicação entre a empresa e o cliente é um dos fatores que contribuem para a construção sadia e para a manutenção de um bom relacionamento entre as duas partes.

    “Nesse sentido, mesmo que ‘todos’ saibam que a greve afetou a todos sem distinção, é de bom senso, na medida do possível, que as empresas se comuniquem com seus clientes de maneira bem franca e aberta, para avisá-los e/ou alertá-los sobre todos os seus esforços para regularizar qualquer situação de atraso ou falta de atendimento de suas entregas em relação aos prazos assumidos antes da greve. Colocar-se à disposição para quaisquer dúvidas e até mesmo pedir desculpas pelo acontecido (mesmo que a culpa não seja da empresa neste caso), transmite uma sensação de importância, ou seja, ‘você, cliente, é muito importante para nós, por isso estamos nos mobilizando para melhor atendê-lo, em qualquer situação’. Além de gerar maior confiança por parte dos clientes, esse tipo de ação estreita e fortalece o relacionamento”, diz.

    Já em relação às finanças, fluxo de caixa, entre outros, o profissional afirma que é o momento para revisar os planejamentos e compromissos que foram assumidos antes de a greve ter tido início, uma vez que o tempo de paralisação pode ter gerado perdas financeiras muito grandes para as empresas.

    “Algumas ficaram sem condições de realizar seu faturamento, pois não tinham como fazer as entregas. Outras paralisaram sua produção por falta de matéria-prima, e assim sucessivamente. Renegociar prazos, contratos etc. pode poupar dores de cabeça mais na frente, então esse replanejamento deve ser feito o quanto antes”, diz ele.
    Em situações como a greve dos caminhoneiros e em relação aos seus reflexos, também há atitudes que não são recomendadas. Luna afirma que, em termos de comercialização dos produtos ou serviços, não é interessante elevar os preços de maneira abusiva para compensar as perdas do período de paralisação. O profissional frisa que o cliente mais atento percebe isso.

    “Não digo aqui que nada deve ser alterado em relação aos preços, pois algum impacto sempre vai haver nesse período de normalização, mas tentar recuperar as perdas às custas dos seus fiéis clientes não é justo e é até desonesto. Aqui vale também o comentário da comunicação (para alguns casos). Na medida do possível, os clientes deveriam ser informados sobre um possível e inesperado reajuste de preços”, afirma ele.
    Já no que diz respeito à gestão empresarial, o profissional pontua que os empresários devem ficar alertas no sentido de possíveis novas paralisações ou eventos que possam impactar os seus negócios, sobretudo no momento econômico/político que o Brasil está vivenciando atualmente, “e aproveitar para desenvolver ‘planos de contingência’ e/ou ‘gerenciamento de crises’ para não serem pegos de surpresa, ou seja, não devem negligenciar essa fase que estamos passando, ou achar que ‘o pior já passou’. Não estou sendo pessimista ou negativo, apenas realista, e o empresário realista tem maiores condições de se proteger, sem sustos”, diz ele.

    Prejuízos
    Com o fim da greve, muitas organizações revelaram que tiveram prejuízos significativos. E é preciso saber lidar com esse cenário. Conforme ressalta Luna, é necessário trabalhar com direcionamento e foco total em reverter a situação.
    “Posso dizer que muitas empresas, se não a maioria delas, já viveram alguns períodos de crise, em que seus lucros não apareceram como o esperado e, muitas vezes, passaram por períodos de prejuízos. Nesse caso, o problema foi externo e não por gestão deficitária da empresa. Mas o ambiente externo faz parte do jogo e parte dele é imprevisível. O que quero dizer com isso é que as empresas e empresários devem manter os pés no chão e não dar lugar ao desespero. Decisões tomadas ou ações realizadas em modo ‘desespero’ quase sempre têm resultados abaixo do esperado ou até mesmo nenhum resultado, sendo gastos tempo, esforço e dinheiro, para nada”, diz ele.

    Dessa forma, ele afirma que é importante trabalhar de maneira planejada e aproveitar para chamar a equipe para encarar mais esse desafio na empresa.
    “E aqui vem outro ponto importante mais uma vez relacionado à comunicação, mas dessa vez à comunicação interna. A equipe precisa saber o que se passa com a empresa, quais foram os reais impactos e prejuízos causados pela greve, e assim por diante. Dessa maneira, a empresa pode contar com a equipe para reverter a situação, e a equipe conta com a confiança da liderança”, pontua ele.

    Planejamento

    A greve dos caminhoneiros pegou diversas organizações totalmente de surpresa, que não possuíam planejamento para lidar com uma ocasião como essa. Como explica Luna, o planejamento, além de necessário, precisa ter uma espécie de mapa de possíveis eventos que podem impactar a organização, tanto em relação às finanças quanto às suas operações, entre outros pontos.

    “Não estou dizendo que temos todos agora que aprender a prever o futuro, mesmo porque isso não é possível, mas as empresas e empresários devem saber minimamente o que os impacta, o que impacta o seu ramo de atuação, o seu mercado etc. Feito isso, deve-se pensar em planos estratégicos, planos de contingência, gerenciamento de crises etc., que serão acionados no caso de um evento impactante para eles vier a acontecer”, afirma ele.
    “Vamos a um exemplo simples e talvez exagerado, mas somente para ilustrar: uma empresa desenvolvedora de equipamentos eletrônicos que utiliza, em grande parte, componentes importados da China, deve fazer o que caso o vínculo comercial entre o Brasil e a China seja cortado e por consequência as importações interrompidas? Ter a capacidade de se antecipar aos acontecimentos e possuir um plano de ação para lidar com as situações adversas pode significar o sucesso ou não de uma empresa”, acrescenta.

    Aprendizados
    Como em toda situação em que dificuldades se apresentam, a greve dos caminhoneiros também levou aprendizados para uma série de organizações. Luna cita que essa ocasião “reforça o que sempre dizemos aos empresários aos quais assessoramos: ‘o único responsável pelos resultados da sua empresa é você mesmo (ou os dirigentes e tomadores de decisão da empresa)’. O que quer dizer que é muito fácil colocar a culpa dos resultados ruins nas costas do governo, dos políticos, dos concorrentes, da sua própria equipe e assim por diante. Difícil é admitir que você poderia ter feito diferente ou planejado melhor, ou pesquisado melhor, ou contratado melhor, ou agido com mais foco e direcionamento etc, para que os resultados fossem diferentes ou melhores. Não estou de maneira nenhuma isentando o governo ou os políticos ou quem quer que tenha provocado essa paralisação, de suas responsabilidades, mas o fato é que, como já disse anteriormente, o problema foi geral e, se foi geral, foi para você, para seu vizinho e para o empresário que está a 5 mil km de você… Então, por que depois da crise alguns estão ‘tocando o barco’ e outros ficaram ‘desesperados’?”, questiona.

    Bem-sucedida
    Redes de franquias de alimentação foram algumas das afetadas pelos efeitos da greve dos caminhoneiros. A Fórmula Pizzaria foi um exemplo das que souberam contornar a situação. A rede conta com uma Cozinha Central, que é responsável pelo abastecimento dos produtos e insumos usados em todas as unidades, menos itens de hortifrúti.

    Gestão: Os dias depois da greve
    “Trabalhamos com os nossos franqueados um estoque regular alto para possíveis eventos externos, o que fez com que as lojas não fossem prejudicadas quando deu início a paralisação nas estradas”, relata Henrique Mol, diretor executivo da Fórmula Pizzaria

    “Trabalhamos com os nossos franqueados um estoque regular alto para possíveis eventos externos, o que fez com que as lojas não fossem prejudicadas quando deu início a paralisação nas estradas. Alguns franqueados sentiram a falta de cebola, tomate, pimentão e manjericão, no entanto, outras opções do cardápio foram oferecidas ao cliente”, relata Henrique Mol, diretor executivo da Fórmula Pizzaria.

    Pelo fato de a Cozinha Central estar localizada em Belo Horizonte, Minas Gerais, o transporte é realizado por meio de caminhão. As lojas que ficam na capital mineira são abastecidas semanalmente e as demais unidades de 15 em 15 dias.
    Essa medida adotada pela franquia possibilitou que os franqueados alcançassem recorde de vendas. Mol conta que em dias como segunda e terça-feira são realizados, em média, em cada unidade, 40 pedidos diários. Algumas lojas da marca comercializaram mais de 120 pizzas no dia.

    “Enquanto algumas redes também do setor de alimentação tiveram que fechar suas portas devido à falta de insumos, nossos franqueados se sobressaíram devido ao estoque alto que é padrão em todas as unidades”, diz o empresário.
    A Fórmula Pizzaria tem 13 unidades em cidades mineiras como Belo Horizonte, Contagem, Nova Lima, Betim, Pouso Alegre e Divinópolis e também em Volta Redonda, no Rio de Janeiro.

    ActionCOACH
    actioncoach.com.br
    Fórmula
    formulapizzaria.com.br

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