Operação Carne Fraca. Nos últimos dias, essas três palavras estiveram entre algumas das mais faladas nos noticiários. Não faltaram, por parte da população, comentários, dúvidas e, até mesmo, brincadeiras em relação ao tema, que dividiu opiniões e rendeu as mais diversas preocupações sobre os seus reflexos.
Mas, afinal, o que houve? De acordo com investigações da Polícia Federal, realizada em seis estados e no Distrito Federal, funcionários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em Goiás, Minas Gerais e Paraná, estariam recebendo propina em troca da não fiscalização das carnes. Sendo assim, itens com adição de produtos químicos que mascaram uma aparência ruim, acrescidos de água para que ganhassem mais peso ou reembalados após o vencimento teriam sido encontrados em alguns dos 21 frigoríficos fiscalizados na operação.
Até o fechamento desta edição, 35 pessoas haviam sido presas e duas estavam foragidas. Além disso, 33 servidores do Ministério da Agricultura tinham sido afastados e 3 frigoríficos interditados: um da marca BRF em Mineiros (GO) e dois da Peccin Agro Industrial, localizados em Curitiba (PR) e Jaraguá do Sul (SC).
As notícias também abalaram o mercado externo. Coreia do Sul, China e União Europeia impuseram restrições temporárias à exportação da carne do Brasil em seus territórios. O Chile, por sua vez, suspendeu temporariamente a entrada de carne brasileira no país. Os 21 frigoríficos envolvidos na operação não podem mais, preventivamente, enviar carne para o mercado externo. Além disso, cinco unidades de produção tiveram suas certificações suspensas, também de maneira preventiva, e não podem mais comercializar produtos no Brasil e em outros países.
Em nota, a Secom/PR e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento destacaram que “o governo brasileiro, através dos seus serviços de fiscalização, da Polícia Federal e outros órgãos de controle, cumpre seu papel de garantir a qualidade e sanidade, tanto dos produtos alimentícios destinados ao mercado externo quanto ao mercado interno, sejam de origem animal ou vegetal”. A nota também salienta que “a investigação da Polícia Federal e a pronta reação das nossas autoridades do Ministério da Agricultura são a maior prova de que nosso sistema de proteção e fiscalização está alerta e funcionando plenamente, e servem como garantia ao consumidor da qualidade dos produtos de origem agropecuária de nosso país”. Além disso, o Ministério frisou que o Serviço de Inspeção Federal é considerado um dos mais eficientes e rigorosos do mundo, construiu uma reputação de excelência na agropecuária e consegue atender às exigências rigorosas de diferentes nações.
Cenário
A Peccin Agro Industrial, em nota, afirmou que “tem amplo interesse em contribuir com as investigações, em busca da verdade, estando inteiramente à disposição das autoridades policiais para prestar quaisquer esclarecimentos que se façam necessários. A empresa também declara que “estão confiantes de que os órgãos competentes saberão discernir a efetiva veracidade dos fatos que ora se alegam, ainda, conclama pela paciência e serenidade da sociedade para o esclarecimento dos fatos verdadeiros”. A organização salientou que “lamenta a divulgação precipitada de inverdades sobre o seu sistema de produção, sendo que as informações repassadas ao grande público foram no afã de justificar os motivos da operação ‘Carne Fraca’, modificando os fatos e comprometendo a verdade”.
A BRF, a respeito da sua fábrica de Mineiros (GO), afirmou: “fábrica da BRF localizada em Mineiros, Goiás, foi construída em 2006, produz carne de frango e de peru e responde por menos de 5% da produção total da BRF. Seus produtos são destinados a exportações e mercado interno. A planta está habilitada para exportar para os mais exigentes mercados do mundo, como Canadá, União Europeia, Rússia e Japão, seguindo as diferentes normas estipuladas por esses países.
A fábrica possui três certificações internacionais que estão entre as mais importantes do mundo: BRC (Global Standard for Food Safety), IFS (International Food Standard) e ALO Free (Agricultural Labeling Ordinance). A última auditoria pela qual a fábrica passou foi realizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (“MAPA”) e ocorreu em fevereiro de 2017, tendo sido considerada apta a manter suas operações em todos os critérios.
Apesar de o juiz que atua na Operação ter considerado desnecessário o fechamento da unidade, esta foi interditada, de forma preventiva e temporária, pelo MAPA. A medida deve durar até que a BRF possa prestar as informações que atestem a segurança e a qualidade dos produtos produzidos, o que deve acontecer em breve, uma vez que a Companhia tem confiança em seus processos e padrões, que estão entre os mais rigorosos do mundo”. A empresa salientou na mesma nota que nunca comercializou carne podre e nem foi acusada de assim proceder. Além disso, também falou a respeito das acusações de corrupção.
“A BRF não compactua com práticas ilícitas e refuta categoricamente qualquer insinuação em contrário. Ao ser informada da Operação, a Companhia tomou imediatamente as medidas necessárias para a apuração dos fatos. Essa apuração será realizada de maneira independente e caso seja verificado qualquer ato incompatível com a legislação e regulamentação vigentes, a Companhia tomará as medidas cabíveis e com o rigor necessário. A BRF não tolera qualquer desvio de seu manual da transparência e da legislação e regulamentação brasileiras e dos países em que atua”. A íntegra da nota pode ser conferida no site oficial da marca.
Repercussão
Diante desses fatos, como a notícia tem sido encarada pelas empresas que comercializam carne? Marcelo Whately, pecuarista e especialista em carne bovina da Vila Beef, ressalta que a operação Carne Fraca é muito importante como todas da Polícia Federal e ele enxerga como uma necessidade para que os desvios da lei possam ser combatidos. “As vendas podem ser prejudicadas em um prazo bem curto, pois, após o lançamento da notícia, as questões estão sendo esclarecidas, e as pessoas estão entendendo mais os detalhes da operação, como, por exemplo, que as atividades registradas como ilegais são pontuais e representam uma parcela muito pequena da produção de alimentos processados nacional”, disse ele.
Na Vila Beef, as carnes bovinas comercializadas são de marca própria, o que, para Whately, é o maior diferencial da empresa, que depende apenas dos frigoríficos como prestadores de serviços. “A origem do animal e sua produção são totalmente controladas pelo nosso projeto”, salienta ele.
Com a operação, a Vila Beef pensou em algumas ações: começou a enviar pautas para a imprensa com a sua visão a respeito dos fatos e, ainda, vem esclarecendo a situação com os seus clientes, uma vez que ainda existem muitas dúvidas. “De forma geral, continuamos com nosso trabalho diário de oferecer carnes in natura e processadas com 100% de segurança”, finalizou Whately.
Melhorias
Para Alessandro Pereira, sócio-diretor da Mania de Churrasco! PRIME STEAK HOUSE, rede de franquias que se destaca pelo oferecimento de cortes de carnes nobres em praça de alimentação de shopping center, as vendas nos locais que comercializam carne não devem, em médio prazo, se modificar no cenário local. “Talvez apenas os segmentos com acesso à baixa qualidade podem sofrer pela restrição da oferta devido à maior fiscalização do Ministério da Agricultura. Já em longo prazo, com as punições aplicadas e os players ainda mais atentos às boas práticas, acreditamos que vai reforçar a confiança na qualidade das carnes brasileiras”, ressalta.
O profissional também conta que a empresa ficou indignada e perplexa, como todo o país, diante da operação. “Porém, diante deste fato, vemos muitos pontos positivos como, por exemplo, a iniciativa de um fiscal honesto – que não quis participar de um esquema de corrupção e acabou fazendo a denúncia -, a autonomia e fiscalização da Polícia Federal, bem como o maior rigor que todos os frigoríficos do país terão de seguir a partir de agora. Mas é preciso ter discernimento para separar o ‘joio do trigo’: os empreendimentos honestos, que são a grande maioria e precisam seguir com credibilidade seu trabalho, daqueles que buscam atalhos e que querem tirar vantagem da população e do mercado: esses, sim, devem sair do mercado e pagar pelos seus erros”, diz.
Segurança para o consumidor
O profissional também destacou que segurança e credibilidade se constroem no decorrer do tempo e que o Brasil avançou muito nos últimos anos em relação à produção de carnes de qualidade, de padrão internacional, com controles que ele classifica como dos melhores do mundo.
“É claro que as denúncias e as informações que não estiverem bem claras podem ser um pouco distorcidas e, com isso, acabam causando insegurança para alguns consumidores. Com mais fiscalizações, exigências e combate à corrupção por parte do Ministério da Agricultura e da Polícia Federal, todos nós ficaremos mais seguros. Preferimos ver que, da ótica da Operação, que durou dois anos, estão sendo investigados apenas 21, que representam 0,4% dos frigoríficos de todo o país”.
Na Mania de Churrasco, segundo Pereira, existem parcerias de longo prazo, com os melhores frigoríficos do país. A carne comprada, como ele diz, é de qualidade superior e possui certificação de origem. As lojas adquirem itens de fornecedores homologados e aprovados pela equipe de qualidade da empresa. “Em todas as lojas, temos, todos os meses, visitas surpresa para auditar a qualidade e o padrão dos nossos produtos. Esse trabalho é feito por uma empresa externa especializada em segurança alimentar, que foi contratada para auditar todos os procedimentos exigidos pela vigilância sanitária. Nossas lojas são abertas para visitas a qualquer momento pelos nossos consumidores. A orientação para toda a rede é que não toleramos qualquer desvio de conduta e não abrimos mão de qualidade, de forma alguma”, finaliza.
Mais vendas
Os números negativos após a divulgação das irregularidades em algumas empresas de carne não surgiram em diversos locais. Na Meat&Co, por exemplo, segundo Rogério Coutinho, sócio da empresa, o que aconteceu foi justamente o contrário: as vendas já apresentaram aumento. “Muitos clientes vieram a loja por saber que nosso fornecedor, a VPJ, da qual somos distribuidores exclusivos, não está citada nem envolvida em nenhuma das operações da PF. Inclusive, houve procura de clientes que ainda não conheciam o nosso produto e estavam ‘fugindo’ das marcas tradicionais que foram citadas na operação. Os clientes que já conhecem a nossa loja e nosso fornecedor ficaram mais à vontade para optar pelo nosso produto no momento, já que a transparência e o controle do processo de produção sempre foram as grandes bandeiras da VPJ”, afirma ele.
Mas, diante dos últimos acontecimentos, de acordo com o profissional, e neste momento delicado, é extremamente importante para a Meat&Co. mostrar para o consumidor que a marca trabalha com uma empresa séria, comprometida e responsável com a produção de alimentos de qualidade. “A Meat&Co. é representante exclusiva, em Minas Gerais, da VPJ Alimentos, a primeira empresa a fazer parte do maior programa de carne bovina do país. A VPJ é uma das únicas empresas a controlar todos os elos da cadeia produtiva de carnes especiais – desde a seleção genética até a indústria – por meio de um rigoroso processo de seleção e melhoramento de animais, manejo alimentar, bem-estar e, acima de tudo, rígidos controles industriais. Desde 2003, a Associação Brasileira de Angus (ABA) concede o selo “Carne Angus Certificada” aos produtos da linha bovina da VPJ Alimentos. Isso significa que todos os cortes produzidos pelo Programa Carne Angus Certificada e que, portanto, carregam seu selo no rótulo, recebem, além da fiscalização oficial, a chancela extra dos técnicos da entidade, ou seja, a carne Angus passa por um controle meticuloso que prevê a ação de fiscais próprios em cada uma das plantas frigoríficas parceiras. Importante lembrar também que o sistema é auditado pela certificadora alemã Tüv Rheinland, o que permite acesso aos mais exigentes mercados do mundo.
A VPJ possui uma trajetória sólida e de comprometimento com o consumidor e nós, da Meat&Co, transferimos esses valores para os nossos clientes, garantindo a eles que a carne que estão comprando e consumindo na loja são de alto padrão de qualidade”, afirma.
“Temos um modelo diferenciado, em um ambiente agradável, com atendimento especializado, onde o cliente encontra toda a linha de cortes de Angus, Cordeiro Dorper, Leitoa Caipira e Duroc Pork, podendo ainda degustar um de nossos vinhos e cervejas artesanais que melhor harmonizem com a carne preferida”, destaca Coutinho.
O profissional ressalta, ainda, que é muito importante que as instituições no Brasil trabalhem para que possam garantir que as pessoas tenham sempre a certeza de que estão seguras ao consumidores qualquer produto. “Torcemos para que a situação seja elucidada, os culpados punidos e os inocentes absolvidos”.