Desperdício Zero

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    Lixo coletado, separado e processado para ser usado como matéria-prima na manufatura de novos produtos. Esse é o conceito de reciclagem: um termo originalmente utilizado para indicar o reaproveitamento ou a reutilização de detritos no mesmo processo em que, por alguma razão, foi rejeitado.

    O vocábulo surgiu na década de 70, quando as preocupações ambientais passaram a ser tratadas com maior rigor, especialmente após o primeiro choque do petróleo, que ocorreu em 1973, quando os países do Oriente Médio descobriram que o produto é um bem não-renovável e que, por isso, iria acabar algum dia. Conseqüência disso, foi o aumento dos custos de produção dos bens, serviços e preços. Foi a partir dessa preocupação que a reciclagem tornou-se uma atividade estratégica. Na maior parte dos processos, o produto reciclado é completamente diferente do produto inicial.

    Renováveis

    O processo de recolhimento de materiais recicláveis, tais como papéis, plásticos, vidros, metais e orgânicos, previamente separados na fonte geradora, é chamado de coleta seletiva. Esses materiais recolhidos são vendidos às indústrias de reciclagem ou aos “sucateiros”.

    Quem já descobriu como contribuir para a preservação do meio ambiente foram as empresas de foodservice. A Tetra Pak, uma organização global que produz sistemas integrados para processamento, envase, distribuição e embalagens cartonadas para alimentos, presente em mais de 165 países, é um exemplo disso. A empresa incentiva cidades que adotam a coleta seletiva através da confecção de folhetos educativos e apoio técnico às prefeituras e cooperativas de catadores.

    De acordo com Fernando von Zuben, diretor de meio ambiente da Tetra Pak, a empresa sempre realiza atividades ambientais. “Temos um projeto de educação ambiental nas escolas há mais ou menos sete anos, que atingiu mais de cinco milhões de crianças. Nele, enviamos kits com cartilhas e cadernos para os professores das escolas, ensinando como eles podem trabalhar o lixo com os alunos de maneira lúdica. Além disso, oferecemos oficinas pedagógicas aos professores e orientamos a população através de folhetos que explicam como separar os lixos úmidos e secos. As explicações também são dadas pelos próprios catadores e pelas prefeituras”.

    ( * ) “Os resultados são excelentes: há redução na geração de resíduos, no consumo de água e energia, e também há eliminação do uso da tinta base e solventes orgânicos. Assim, 99% das sobras geradas na empresa vão para reciclagem” Fernando von Zuben, diretor de meio ambiente da Tetra Pak.

    Zuben salienta que são oferecidos cursos gratuitos aos catadores para mostrar qual a maneira correta de separar os materiais, como melhorar a qualidade dos produtos recolhidos e para quem eles devem vender o material da empresa.

    A Tetra Pak possui um sistema de gestão ambiental que organizar as ações que a empresa toma para o gerenciamento ambiental, analisa e controla os impactos ambientais de seus processos produtivos e implementa programas de melhoria, voltados para a área ambiental. Segundo Zuben, a implantação de sistemas para a coleta seletiva de lixo é uma das soluções para a administração do problema da destinação dos resíduos sólidos urbanos, além de possibilitar maior empregabilidade, gerando mais de 250 empregos e contribuindo com trabalhos sociais.

    Reaproveitamento de alimentos

    O reaproveitamento de alimentos, apesar de não ser muito comum no segmento de foodservice, é muito praticado por algumas Organizações Não Governamentais e apoiado por empresas não relacionadas ao setor. Projetos sociais, creches, abrigos, asilos, centros de recreações, instituições e até mesmo associações são beneficiadas pelas ONG’s.

    (*) A reciclagem proporciona grande economia para a indústria, já que na maioria das vezes é mais barato processar materiais industrializados do que transformar a matéria-prima retirada da natureza.

    A economista Luciana Chinaglia Quintão é a fundadora do Banco de Alimentos, organização criada em 1998. Segundo ela, o objetivo do Banco é combater o desperdício de alimentos e minimizar os efeitos da fome, permitindo assim, que o maior número de pessoas tenham acesso a alimentos básicos e de qualidade, em quantidade suficiente para uma alimentação saudável e equilibrada. “A ONG atua de três maneiras distintas e interligadas. Fornecemos alimentos e combatemos o desperdício, promovemos ações educativas e profiláticas e expandimos nossas ações para fora das áreas circunscritas, onde exista o problema concreto da fome. Dessa maneira, atingimos a sociedade como um todo, no sentido de promover uma mudança de cultura, incentivando a ação”, explica Luciana.

    De acordo com a economista, 39 milhões de quilos de alimentos, que daria para alimentar 19 milhões de pessoas por dia, são jogados no lixo. “Esse alimento, que teria o lixo como destino, constitui-se a matéria-prima do nosso trabalho. É como se recolhêssemos pela segunda vez, daí o conceito hoje conhecido como ‘Colheita Urbana’”. Veja no Quadro I algumas dicas do Banco de Alimentos para combater o desperdício.

    “Estamos falando de milhões de pessoas que poderiam ser alimentadas somente com o aproveitamento do que seria descartado, sem se gastar um centavo a mais com a produção de alimentos. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Brasil tem hoje 55 milhões de pessoas na faixa da pobreza, ou seja, ganham até um salário mínimo, e 22 milhões de indigentes, que não têm rendimento nenhum”, diz Luciana.

    (*) Serviço de coleta seletiva da Tetra Pak

    Luciana salienta que o papel da sociedade é fundamental na criação de sua própria realidade. “Na medida em que achamos normal ou aceitável sermos, ao mesmo tempo, um dos países mais ricos do mundo e um dos piores em relação aos Índices de Desenvolvimento Econômico (segurança alimentar, saúde, moradia, educação, transporte, etc.), a situação se perpetua. Modifica-se apenas na mesma medida em que as pessoas passam a ter consciência do seu papel na preservação tanto da humanidade quanto do País e do próprio planeta”.

    Economia e lucro

    O lixo brasileiro, como já se sabe, é um dos mais “ricos” do mundo. Dele se tira literalmente até dinheiro. Basta ter um pouco de visão para ver que os materiais descartados guardam um volume impressionante de negócios, com excelente potencial de lucratividade. Justamente por causa da quantidade colossal de lixo produzido diariamente no País, entre resíduos urbanos e industriais, empresários de todos os setores da economia já perceberam que não dá para escolher entre crescimento econômico e preservação ambiental. As duas coisas têm que estar juntas.

    (*) A ONG Banco de Alimentos trabalha com o conceito de “Colheita Urbana”

    Segundo o IBGE, por exemplo, são produzidas no Brasil cerca de 250 mil toneladas de lixo por dia. Qual o destino final de tudo isso? Algumas cidades, como São Paulo, têm grandes aterros sanitários, outras, como Curitiba, fazem a reciclagem de uma parte dos resíduos. Mesmo assim, os espaços tornam-se cada vez menores e o lixo somente aumenta. De acordo com os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável de 2004, publicados pelo IBGE, o Brasil é recordista mundial em reciclagem de latas de alumínio (89% em 2003, contra 50% em 1993). A reciclagem de papel subiu de 38,8% (em 1993), para 43,9% (em 2002).

    Uma estimativa do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre) mostra que, só na atividade de reciclagem de produtos pós-consumo, o Brasil movimenta atualmente algo em torno de R$ 3 bilhões por ano, considerando apenas os cinco grandes grupos de materiais recicláveis: plástico, papel e papelão, vidro, alumínio e borracha.

    (*) A ONG Banco de Alimentos trabalha com o conceito de “Colheita Urbana”

    Clique aqui e conheça algumas dicas de combate ao desperdício

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