Carreira: Hobby que pode virar negócio

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    Empreendedores brasileiros investem cada dia mais na produção própria de bebidas alcoólicas e pontuam as vantagens e desvantagens do ramo

    No período de dez anos, o consumo de álcool per capita no Brasil aumentou 43,5%, superando a média internacional, de acordo com dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no ano passado. O mesmo levantamento aponta que, em 2006, cada brasileiro, a partir de 15 anos, bebia o equivalente a 6,2 litros de álcool puro por ano. Em 2016, chegou a 8,9. Com isso, o país passou a ocupar a 49ª posição do ranking entre os 193 avaliados pela OMS.

    Em meio a esse considerável aumento do consumo de bebidas alcoólicas pelos brasileiros, o país vive também a expansão da oferta de bebidas artesanais, como a cerveja e a cachaça. Afinal, o hobby de muitas pessoas em fazer sua própria bebida acabou virando negócio para aquelas que também têm o espírito empreendedor na veia e souberam explorar essa tendência.

    Prova disso são dados recentes divulgados pela Associação Brasileira das Cervejarias Artesanais (Abracerva) junto ao Ministério da Agricultura e Abastecimento que diz que, em apenas cinco meses de 2017, o Brasil registrou a abertura de 65 novas cervejarias artesanais, somando ao total de 679 até o fim do mesmo ano.

    Ainda segundo divulgação da Abracerva, o número de cervejarias artesanais registradas no Brasil cresceu 37,7%, e o Estado que possui o maior número desse tipo de negócio é o Rio Grande do Sul, com 142, seguido por São Paulo (124), Minas Gerais (87), Santa Catarina (78) e Paraná (67).

    Já a cachaça é a terceira bebida destilada mais consumida no mundo e a primeira no Brasil, conforme o Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Aguardente de Cana, Caninha ou Cachaça (PBDAC). A produção gira em torno de 1,3 bilhão de litros por ano, sendo que cerca de 25% desse total é proveniente da fabricação artesanal.

    bebidas alcoólicasOs brasileiros são os responsáveis por quase todo o consumo da produção nacional de cachaça. Com isso, apenas por volta de 1% a 2% é exportado, o que equivale a 2,5 milhões de litros. Os principais países compradores são Alemanha, Paraguai, Itália, Uruguai e Portugal. Aqui, a cachaça é produzida em todos os Estados, mesmo naqueles onde o cultivo da cana-de-açúcar não é favorável. Os maiores produtores da bebida são São Paulo (45%), Pernambuco (12%), Ceará (11%), Rio de Janeiro (8%), Minas Gerais (8%), Goiás (8%), Paraná (4%), Paraíba (2%) e Bahia (2%). Porém, a produção de cachaça artesanal ou de alambique está concentrada em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo, sendo que os estados mineiro e fluminense contribuem com quase 50% de toda a produção de cachaça de alambique do país.

    Diferenciação

    Na prática, existem muitas diferenças entre a cachaça artesanal e a industrial, assim como entre as cervejas. As cachaças industriais são produzidas por grandes empresas e a cana-de-açúcar utilizada é cultivada em áreas espaçosas. Já a artesanal é feita em menor escala por pequenos produtores, cuja maioria faz uso de mão de obra familiar. Estima-se que existam por volta de 40 mil produtores de cachaça artesanal no Brasil. Nesse processo manual, a destilação da bebida é feita em alambiques de cobre e a fermentação ocorre de forma totalmente natural.

    Em relação às cervejas, o processo de fabricação também é o grande divisor de águas entre a bebida industrializada e a artesanal. Na última, também muito conhecida como gourmet, todos os ingredientes que compõem uma cerveja, com destaque para o malte, são cuidadosamente selecionados pelos produtores, que levam o aroma e o sabor realmente em consideração. Dessa maneira, o período de fermentação e de maturação da cerveja acontece sem pressa alguma e não são adicionados produtos químicos para acelerá-lo.

    Mercado: vantagens x desvantagens

    Por apresentarem todas essas especificidades durante os processos de fabricação, as bebidas artesanais são, relativamente, mais caras. A cachaça industrial, por exemplo, é vendida por em torno de R$ 0,70 o litro, enquanto a artesanal por, no mínimo, R$ 1,30 litro. Mas, dependendo da forma como é comercializada, a pinga não industrializada pode chegar, em média, de R$ 4,50 a R$ 6,00 por litro.

    Já as cervejas artesanais brasileiras costumam custar, aproximadamente, três vezes mais que as industriais. Ou seja, produzir bebidas artesanais pode ser, sim, um negócio lucrativo. Entretanto, assim como em todo setor, o promissor ramo também apresenta várias outras vantagens e desvantagens, o que exige persistência por parte dos seus investidores.

    De acordo com José Otávio de Carvalho Lopes, presidente da Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade (AMPAQ), a produção de bebidas artesanais, em especial da cachaça, é vantajosa por seguir uma real inclinação de mercado. “Hoje, existe uma aceitação mundial de produtos feitos à mão, que é o tão falado mundialmente como ‘handcraft’, e com a cachaça não é diferente. As cachaças de alambique são um exemplo desse processo. No Brasil, temos mais de 40 mil alambiques produzindo cachaça de qualidade e 60% desses estão em Minas Gerais”, diz.

    bebidas alcoólicas prussia bier
    “Precisa ser detalhista em todas as áreas: produção, comercial, logística. O cliente é a razão da existência de qualquer negócio e, no de bebidas artesanais, não é diferente”, diz Railton Vidal, diretor comercial da Prussia Bier

    Lopes acrescenta que a qualidade é outro grande benefício competitivo da produção artesanal de bebidas. “As cachaças de alambique ou artesanais são feitas num processo em que separamos partes do destilado e chamamos de cabeça, coração e cauda. Somente o coração é ofertado à população. As outras duas partes, cabeças e cauda, são descartadas. Evidentemente, o preço do produto artesanal tende a ser mais alto, não só pela qualidade, mas também pelo volume produzido em comparação com a escala industrial, que aproveita todas as partes do líquido destilado”, explica o presidente da AMPAQ.

    Elis da Costa Jota, supervisora de vendas da Cachaças Engenho da Cana, também acredita que o principal proveito de produzir bebida artesanal é trabalhar com um produto diferenciado em termos qualitativos. “A maior vantagem é a diferença na qualidade do produto. Mas, para usufruir disso, é preciso conhecer bastante sobre o ramo e como produzir uma bebida com a qualidade adequada. Além disso, na hora da venda, é necessário ter pensamento de empreendedor e não apenas produtor, pois o comércio é bastante competitivo”, indica.

    Já Railton Vidal, diretor comercial da Prussia Bier, cervejaria artesanal, destaca que as facilidades em produzir bebida de forma não industrial estão mesmo no prazer e na liberdade que esse tipo de mercado proporciona aos produtores. “Prazer em difundir e apresentar ao público o mundo diverso das cervejas, a democracia de poder escolher o estilo preferido, oferecer experiências novas é muito gratificante”, avalia.

    Em relação às desvantagens, os entrevistados destacam o fator comercial como um dos maiores desafios vivenciados quando o assunto é a fabricação e venda de bebidas artesanais. “O produtor de bebida artesanal enfrenta vários gargalos, como o fato de a visibilidade de seu produto ser infinitamente menor que os produtos industriais devido à falta de recursos para divulgação, marketing, promoções etc. A divulgação é quase um boca a boca. A produção é só uma fase, as etapas seguintes podem ser mais difíceis, como a comercialização, por exemplo”, afirma Lopes, presidente da AMPAQ.

    Jota, da Cachaças Engenho da Cana, pondera que a comercialização é complicada devido ao custo mais elevado de produção, incluindo os impostos. “Os valores um pouco maiores do que de bebidas que não são artesanais dificultam em alguns casos”, diz.

    A alma do negócio

    Ainda de acordo com Lopes, presidente da AMPAQ, a alma do negócio de bebidas artesanais está, de fato, diretamente relacionada ao perfil dos próprios produtores, que devem sempre estudar e pensar em agradar ao máximo os consumidores. “Quando o produto é feito com amor, com paixão, a exigência de qualidade faz parte do DNA daquele produtor. Assim, no seu produto, ele coloca seu nome, sobrenome etc. O produtor de cachaça de alambique pode e deve começar pequeno, entender o processo, dominar as boas práticas de produção de cachaça, ter sempre em mente que faz o melhor para atender a demanda daquele que aprecia o que é excelente”, enfatiza.

    O mesmo sentimento é partilhado pelo diretor comercial da Prussia Bier, que acredita que o sucesso do produtor de bebida artesanal está em ele ser esmerado. “Precisa ser detalhista em todas as áreas: produção, comercial, logística. O cliente é a razão da existência de qualquer negócio e, no de bebidas artesanais, não é diferente. O indicado é que ele seja um entusiasta. Além de fazer um negócio ser lucrativo, tem que haver consciência e responsabilidade de difundir a cultura cervejeira na maior parte das cidades brasileiras”, conclui Vidal.

    Anpaq
    www.anpaq.com.br

    Cachaça Engenho da Cana
    cachacaengenhodacana.com.br

    Prussia Bier
    www.prussiabier.com.br

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